'O perfil do gestor do esporte'

Sistematicamente, tenho lido entrevistas de gestores de esportes dos mais diversos. Fico muito impressionado, pois muitas vezes atuam apagando incêndios, dos mais diversos tipos, e, normalmente, sem uma estrutura adequada. E quase sempre tendo que resolver problemas de fluxo de caixa. São verdadeiros abnegados, que sacrificam seus horários de trabalho. Muitas vezes, acabam colocando dinheiro próprio na operação e não têm nenhum reconhecimento. Nestas entrevistas, vemos sempre este discurso de torcer para o clube desde que o mundo é mundo; de ser um apaixonado, enfim, todos os sentimentos, apontando para um relacionamento simplesmente passional. Neste momento, começam os problema destas instituições do esporte. Política interna, paixão, orçamento, pressão externa, enfim, todo tipo de questão.
Durante dez anos gerenciei equipes de basquete e vôlei feminino. Claro que não se compara. Tinha uma equipe de três ou quatro colaboradores. Havia uma máxima entre nós: é proibido pensar ou agir como torcedor, antes, durante e depois dos jogos.
Estávamos ali para garantir um espetáculo de primeira grandeza e proporcionar excelentes condições de jogo. Afinal, representávamos o clube e o patrocinador.
Durante este tempo, tivemos que recusar ideias esdrúxulas que chegavam a nós: vamos cortar a água do vestiário dos adversários; não vamos deixar a torcida visitante entrar; não convidar os gestores de nossos adversários para nosso hospitality center, e outros muito piores, no sentido de que vale tudo para vencer. Raciocínio de torcedor.
Eu nem consigo imaginar como isso acontece nos grandes eventos esportivos. Por isso, cada vez que leio, ou ouço, um gestor, um dirigente, declarar seu amor e sua paixão pelo clube, fico de orelhas em pé. A última competência, que hoje se exige de um gestor do esporte é a paixão..
Mas Luiz, por que você pensa assim? Simples. Vão ocorrer situações em que será necessário, tomar decisões difíceis. Muitas vezes, no calor do evento. Neste momento, pessoas com comportamento passional, tendem a reagir de forma apaixonada, muitas vezes longe do racional. Que perigo!.
Investimentos altíssimos, em jogo. Grandes marcas envolvidas correndo o risco de estarem numa foto indesejada. Hoje, mais do que nunca, esporte é entretenimento. O que acontece nas quadras, nos campos, precisa ser tratado como um produto de excelente qualidade. Caso contrário, existe o risco de perder o patrocinador, não fechar um bom contrato de transmissão, ter problemas com torcedores, enfim, há de existir um entendimento profundo sobre vários aspectos, que estão muito longe de ser uma simples paixão.
O certo é que esporte dá muito trabalho. Não tem muito glamour. E, claramente, só apaixonados podem cuidar do dia a dia de algo assim. Agora é que não entendi mesmo, Luiz: você disse que não pode ter paixão e agora está dizendo que tem de ser apaixonado? .
Explico. Como, tudo na vida que fazemos profissionalmente, temos que gostar da atividade. O esporte engana quem está de fora. A maioria das pessoas acredita que é muito legal trabalhar na área. Certamente, há controvérsias. Mas isso é assunto para outra ocasião.
Não será fácil, mas todas estas habilidades, vão estar no dia a dia deste profissional. Competências, como liderança de equipe, ética, responsável, que não cometa erros em relação a gênero, raça, religião; que consiga se comunicar com facilidade, de maneira simples e objetiva, e que tenha postura para transitar em todas as faixas da hierarquia social, com muita destreza.
Esta é minha reflexão sobre perfil de gestores de esporte. Se você é um desses e não tem essas habilidades, por favor, cerque-se de pessoas capazes, pense e repense sua estrutura e arranje um modo de tratar esta paixão desenfreada, para que você possa ter a mente limpa, nestes momentos.
Autor Luiz Fernando Coelho, Jornalista e Palestrante postado em 01/12/2021
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