M. Vinícius conquista espaço no Bota e faz valer sacrifício pessoal do irmão

Contra o Bahia, o técnico Caio Júnior surpreendeu ao escalar Marcos Vinícius como titular do Botafogo. Sem poder contar com Renato, por conta de problemas com a documentação, o treinador decidiu dar uma chance ao volante de 21 anos. Ao pisar o gramado do estádio de Pituaçu vestindo a camisa alvinegra pela primeira vez como titular, o jogador viu um filme passar em sua cabeça. A responsabilidade de ser a esperança de uma família com poucos recursos seria até uma história comum no futebol. Seria. Porém, no caso dele, o sacrifício de um parente faz com que a essa responsabilidade seja muito maior.
Aos 16 anos, Marcos se sentou com o irmão um ano mais velho, João Carlos, para tomar a decisão mais difícil da vida dos dois. Depois de anos tentando juntos se profissionalizar no futebol, um deles teria que dar adeus ao sonho. O pai, que até então trabalhava em tempo integral para manter os filhos no Rio de Janeiro (a família é de Araruama), começou a dar sinais de problemas de saúde. Não havia mais condições financeiras de apostar no futuro de ambos no esporte.
- O meu pai teve que trabalhar de manhã, de tarde e de noite para sustentar eles. Um dia, ele não aguentou e desmaiou, quando só estava eu e ele em casa. Eu saí correndo que nem uma desesperada gritando por socorro. Foi ali que se tomou a decisão de um dos dois parar – relembra Tatiana, irmã de Marcos.

Quem foi encarregada de dar a notícia aos dois foi dona Maria Madalena, mãe dos garotos. Até hoje, ela se emociona ao lembrar que teve que pedir a um dos filhos que abrisse mão de seus sonhos.
- O coração ficou muito partido. Na hora, eu pensei muitas coisas. Se eu pudesse fazer mais...mas não tinha condições. Foi um momento difícil chegar ali e dizer que um teria que voltar para casa.Eu sei que ele (João Carlos) ficou triste na hora. Mas no decorrer do tempo ele foi se conformando Ele sabia que o irmão ia conquistar algo maior.
De promessa de jogador de futebol, João Carlos passou a ser pedreiro. Uma mudança de realidade tão grande que só foi suportada na confiança no irmão.
- Foi uma decisão difícil. Sabíamos o sofrimento que o meu pai estava passando. Falei para ele continuar porque ele estava mais avançado. Ele já estava federado e eu ainda estava em teste. Foi triste. Desde que a gente começou a jogar, a gente sempre sonhava em um dia jogar junto, na mesma equipe. Mas sempre tive muita confiança nele. Todo mundo falava que ele era muito tranquilo. Sempre tive muita certeza que ele conseguiria.
A responsabilidade de dois

com orgulho (Foto: Divulgação)
A decisão do irmão aumentou exponencialmente a pressão sobre os ombros de Marcos Vinícius. O sacrifício de João Carlos o fez sentir que não podia falhar. Era dele a missão de ajudar a família que tanto acreditou nele.
- Sempre penso no meu irmão quando entro em campo. No jogo contra o Bahia, pensei muito nele antes de começar o jogo. Corro por mim e por ele. Por ele ter largado o sonho dele por mim, tenho essa obrigação. Estou defendendo não só o meu futuro, mas também o da minha família. Foi uma dificuldade enorme quando eu vi que estava acabando o sonho do João Carlos. Doeu bastante para ele e para mim. Eu sei que o que ele fez são poucos que fazem. Não me sinto culpado, mas sinto triste de ver isso – conta Marcos Vinícius.
O crescimento de Marcos dentro da equipe do Botafogo trouxe uma alegria e um alívio muito grande para a família. Principalmente para o sr. Carlos, pai do jogador, que se emocionou muito relembrando a dura decisão de ter que escolher pelo sonho de um dos filhos.
- É um orgulho muito grande ver ele se dando bem. Todo mundo liga, dá os parabéns. A vontade do pai é ver o melhor para o filho. Mas eu não podia roubar para botar meu filho lá. Ficaria mais feio ainda. Meu emprego não dava. Tenho orgulho dos dois por um querer ver o bem do outro. Nossa família sempre foi assim muito unida.
Um união que, segundo João Carlos, segue muito forte mesmo com o irmão morando em outra cidade. Para ele, mesmo que Marcos acabe tendo que se mudar de país por conta da profissão, os dois nunca deixarão de estar próximos.
- Para onde ele for, estou junto. Eu tenho ele a todo momento na minha lembrança. Está sempre no meu coração. Me orgulho muito do caminho que ele está trilhando.

Caminho esse que Marcos diz estar apenas no início. Segundo o jogador, a família pode esperar muito mais dele.
- Na minha cabeça, eu tenho um projeto enorme pela frente. Procuro trabalhar forte porque quero dar conforto para a minha família. Eles fizeram muito para mim e eu quero retribuir. Estar aqui no Botafogo já é um sonho realizado, mas ainda tenho muitos pela frente para conquistar.Autor postado em 19/07/2011
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