Nos passos de Edinanci, Mayra Aguiar vai com tudo a Londres

Nas últimas duas décadas, Edinanci Silva foi referência nas categorias médio (-72kg) e meio-pesado (-78kg) no judô feminino brasileiro. E meados dos anos 2000, havia uma desconfiança sobre quem substituiria a judoca no cenário nacional depois da sua aposentadoria. Mas uma declaração da própria Edinanci em 2010 revelava que o problema já tinha sido resolvido: "É uma honra imensa ter deixado a seleção em boas mãos". E essas "boas mãos" têm dona: a gaúcha Mayra Aguiar.
Mayra Aguiar comemora conquista no Grand Slam de Judô de Paris (Foto: Divulgação)

Quinze anos de idade as separam, mas a trajetória das duas são bem parecidas. Em 1997, Edinanci conquistava a medalha de bronze no Mundial de Paris (Mayra tinha apenas seis anos). Em 2003, novo bronze mundial, agora em Osaka (Mayra com 12 anos). E o destino colocou a França e o Japão no caminho de ambas - não necessariamente nessa ordem. Sete anos depois, em 2010, Mayra foi prata no Mundial de Tóquio e no ano seguinte garantiu o bronze em Paris.
Matematicamente classificada para as Olimpíadas e com boas chances de assumir a liderança do ranking mundial da categoria até 78kg, Mayra Aguiar começou o ano de forma impecável, vencendo as duas competições que disputou: o Mundial Masters do Cazaquistão e o Grand Slam de Paris. Este último no domingo passado. E aí surge mais uma coincidência. Mayra é a primeira judoca brasileira a ganhar a competição. Apenas Edinanci, há 12 anos, tinha vencido o Torneio de Paris, que só a partir de 2009 passou a ser considerado um Grand Slam.
Se em 2008, a gaúcha tinha apenas 17 anos e foi eliminada logo na primeira luta dos Jogos de Pequim, agora ela chega a Londres mais madura e como uma das favoritas ao ouro. Mayra vai ter a chance de escrever seu próprio caminho e conquistar algo que Edinanci tentou, mas não conseguiu: uma medalha olímpica.
Em entrevista exclusiva ao SPORTV.COM, Mayra Aguiar falou sobre Edinanci, as chances nas Olimpíadas de Londres, as adversárias e o que mudou em sua forma de lutar.
Confira a entrevista completa:

(Foto: Gaspar Nóbrega / Inovafoto)
Você luta na categoria que por anos teve a Edinanci como titular. Isso pesa?
Ela sempre me ajudou bastante e me deu dicas. Sempre a levei como um espelho. É uma pessoa dedicada. E aí quando fui substituí-la na categoria dela, imagina só a pressão! Tudo o que ela represeta para o judô feminino do Brasil. Ela me deu muito apoio e por isso fiquei muito feliz. Cada pessoa tem o seu brilho. Ela brilhou muito. Não tenho que ser melhor ou pior. Estou fazendo o meu caminho. Mas tenho certeza que ela foi muito importante para a minha trajetória, assim como outros atletas como o João Derly, com quem treino, e com o Leandro Guilheiro, com quem converso bastante.
Mayra, 2012 é o seu ano?
O ano de 2012 não poderia ter começado melhor. Está dando tudo certo até agora. Tenho que continuar trabalhando como estou fazendo, suando e treinando bastante. Espero que 2012 seja o meu ano. Na verdade, é um trabalho que vem dos anos anteriores. Tudo o que fiz nos outros anos, na preparação, está refletindo agora. Isso tudo é resultado de tanto treino e dedicação.
Olimpíadas: em Pequim, aos 17, você perdeu na estreia. Como você se vê em Londres?
Sempre acreditei em mim. Sempre acreditei que eu poderia chegar e conseguir. Acho que vou para Londres com mais maturidade e experiência. Aconteceu muita coisa de quatro anos para cá. Vou para as Olimpíadas em um peso diferente de 2008, estou com a cabeça mais amadurecida. Essa transformação acontece no dia a dia, na alimentação, nos treinos, muita dedicação dos técnicos, dos colegas de treino... O judô é um esporte que faço com amor. Antes não tinha tanto essa visão das Olimpíadas, mas agora acho que entendo melhor. O negócio é chegar lá e fazer o que estou fazendo no momento.

Tcheumeo (à direita) (Foto: Divulgação / FIJ)
Quem é sua maior adversária para o ouro olímpico?
As três (Akari Ogata-JAP, Audrey Tcheumeo-FRA e Kayla Harrison-EUA) são as mais fortes. Talvez a japonesa seja a mais difícil porque ainda não ganhei dela. Ela é canhota e faz mais ou menos o meu jogo. Normalmente luto contra destros, por isso estou treinando muito com canhotos. Na verdade, acho que nós quatro estamos quase do mesmo nível. Tenho certeza que a competição vai ser muito disputada nas Olimpíadas e vai ganhar quem estiver com uma cabeça melhor.
Você entra em todas as lutas focada para ganhar por ippon?
Estou mais consciente na hora da luta, penso mais quando estou no tatame. Antes, ficava tão nervosa que me apavorava e não conseguia fazer nada. Na final do Grand Slam de Paris contra a americana, fui totalmente cabeça porque estava cansada e enfrentando o frio. Sobre ganhar as lutas por ippon, estou amadurecendo isso também. Treino para fazer um golpe e ir até o final. Na semifinal, contra a francesa, foi assim. Primeiro fiz um wazari porque não fui até o fim, mas depois consegui e dei um ippon.
Qual a importância da treinadora Rosicléia Campos nesse processo?
Ela está sempre apoiando. Sempre. A Rosi ajuda muito nas viagens, fora do tatame também. Ela passa uma energia muito boa, acredita muito na gente. Você pode estar lá embaixo que ela te ajuda a levantar. Acredita em você mesmo quando você mesmo não acredita mais.
O que representa a liderança do ranking mundial na sua categoria?
Fiquei sabendo que poderia assumir a liderança do ranking depois que voltei de Paris. Fiquei muito contente e sempre pensei nisso, em ser a melhor de uma categoria. A sensação que fica é a de trabalho feito.
Você tem algum sonho?
Desde criança meu sonho é ser campeã olímpica e vou dar o meu melhor em Londres. Luto para isso todos os dias. É claro que sempre vai ter o nervosismo, mas sei que vou dar o máximo de mim.
Autor: ,postado em 08/02/2012
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