Com as duas semanas de folga na tabela do Campeonato Brasileiro, Mancini tem aproveitado o tempo para ajustar o que ainda considera necessário no Leão. Recentemente, o treinador disse que precisou ser inteligente e ajustar primeiro o sistema defensivo. Sem aceitar a característica de “time defensivo”, ele acredita que é hora de soltar a equipe um pouco mais.
- (O Vitória) É um time que marca bastante, que passa da linha da bola e que, quando o adversário tem a bola, ele tem 11 jogadores entre a bola e o gol. Isso é o importante. Fazer com que esse time agora, jogando dentro de casa, tenha uma postura mais ofensiva é natural. É só você soltar um pouquinho mais. O que eu não quero perder é essa volta rápida, essa recomposição que tem sido o forte do time - afirmou.
Além de tratar do modelo de jogo do time, Mancini foi questionado (e respondeu tranquilamente) sobre o aproveitamento de Ramon no meio, a disputa com a volta de Willian Farias, o retorno de Kieza e como pretende usar a marcação nos jogos no Barradão.
Confira a entrevista completa abaixo.
Em uma coletiva recente, você disse que precisava ser inteligente e “fechar a casinha”, apesar de preferir um estilo mais ofensivo. Nessas duas semanas, dá para mudar um pouco isso?
Na verdade, o que aconteceu com o Vitória é que não temos um time defensivo. O time não está recheado de volantes, o time não tem marcadores, ele tem quatro atacantes, só que eu consegui conscientizar esses atacantes que eles tinham que ser marcadores antes de serem atacantes. Acho importante isso. O atleta que joga na parte ofensiva, que ele entenda que a primeira linha de marcação tem que ser dele. Hoje, o forte do Vitória não é que nós temos um time defensivo ou que jogue defensivamente. É um time que marca bastante, que passa da linha da bola e que, quando o adversário tem a bola, ele tem 11 jogadores entre a bola e o gol. Isso é o importante. Fazer com que esse time agora, jogando dentro de casa, tenha uma postura mais ofensiva é natural. É só você soltar um pouquinho mais. O que eu não quero perder é essa volta rápida, essa recomposição que tem sido o forte do time.
Em relação a soltar o time em casa, contra o Avaí o Vitória teve dificuldade para propor o jogo. Como mexer nisso?
Acho que a maior dificuldade foi depois que nós acabamos desperdiçando o pênalti. Se tivesse feito o pênalti, talvez fosse um jogo igual ao da Ponte Preta, porque no jogo da Ponte Preta a gente não teve dificuldade. Cada jogo apresenta uma dificuldade diferente. O que estou entendendo e projetando é que o Vitória tenha, contra Fluminense e São Paulo, talvez um pouquinho mais de espaço para jogar, porque não vão ser times que vão jogar como o Avaí. Mas também será mais testado, porque o poderio de fogo dessas equipes é maior.
Pensa em variações táticas? Talvez um esquema com Kieza e Tréllez?
Tenho algumas outras opções agora. A minha ideia é não mexer na equipe. Embora eu tenha voltando o Kieza, daqui a pouco o Willian Farias, alguns outros atletas, mas para esse jogo do Fluminense eu não sei em que estágio vai estar o Kieza. Vou ter a semana inteira para pensar, mas o Kieza é uma opção muito boa. Não sei se desde o início do jogo ou durante a partida.
Quando fala para ter postura mais agressiva dentro de casa seria avançar um pouco mais as linhas, marcar no bloco médio?
Exatamente. Nós temos já definidas algumas linhas de marcação. Linha 1 que é uma linha mais em cima; Linha 2 que é mais no centro do campo; e Linha 3, normalmente mais usada na hora que a gente joga fora de casa, porque você diminui muito o campo de jogo. Quando o Vitória joga em casa, eu posso utilizar a Linha 1 e me tornar altamente ofensivo, posso utilizar a Linha 2 e propor ao adversário que a bola fique mais tempo no pé dos zagueiros, e aí, obviamente que dou para ele toda hora o lançamento nas costas de nosso zagueiro. Aí meu goleiro tem que jogar um pouco adiantado. Tudo isso aí eles já sabem fazer. Diante das partidas é que nós vamos, diante dos adversários, dentro das partidas, é que a gente opta por Linha 1, Linha 2 ou Linha 3. O que torna o time mais defensivo ou ofensivo.
Variações que podem ser usadas dentro das partidas, como usar a Linha 1 nos primeiros 15 minutos e depois variar?
Não tenha dúvida. É o que a gente tem feito nos jogos em casa. Nos dois jogos a gente fez isso. Diante de Ponte Preta e Avaí. Tanto é que no jogo contra o Avaí a gente teve o pênalti e outras oportunidades também, que no jogo da Ponte Preta a gente aproveitou e no jogo do Avaí, não. A postura é exatamente essa. Não posso, de maneira alguma, tirar do torcedor o que ele quer ver, que é o ímpeto do time fazer gol. Acho que esse é o xis da questão. O torcedor ir para o estádio e ver que o time dele tem intenção de ganhar a partida. Lógico que não é correndo riscos, ainda mais na situação que nós estamos. Temos que ser prudentes também. Mas acho importante mostrar para a nossa torcida, que eu tenho certeza que vai lotar o Barradão, que o time tem o ímpeto de sair da situação que está. Felizmente estamos fora da zona, mas tem muita coisa para ser conquistada.
Você ainda enxerga Ramon como um zagueiro ou vê como um volante?
Eu enxergo Ramon como um excelente jogador. Ele foi muito útil para mim em 2016 e 2015 na quarta zaga e agora tem sido muito útil como volante. É um atleta que entende a filosofia do treinador. Acho isso importante de dizer. Acho que a maioria dos atletas, ou a grande maioria, subiu de produção após a minha chegada. Talvez porque eles entenderam aquilo que eu peço. Isso é uma coisa que tem de ser destacada, o quanto há de envolvimento hoje dos jogadores na metodologia que o Mancini passa. O Ramon é um exemplo disso. Se amanhã eu tiver que usar o Ramon de lateral, eu tenho certeza que ele vai se sair bem, porque é um atleta que está confiante. Dentro daquilo que eu peço, ele sabe desempenhar. Eventualmente ele também pode jogar na zaga.
Pela resposta que Ramon deu em campo, Willian Farias voltando de lesão vai ter que esperar? Ou ele volta pro time?
Eu já me fiz essa pergunta algumas vezes e não tenho resposta até hoje. E também acho que não há razão para pensar nisso, porque eu posso ter um cartão, posso ter uma lesão, que Deus me livre e guarde não é o que eu quero, mas isso pode acontecer. Eu posso estar em uma situação onde eu tenha que usar um terceiro volante, posso ter uma indefinição na zaga e puxar o Ramon para a zaga. Então tem algumas variantes importantes. Quero destacar que o crescimento dos atletas fez com que todos nós entendêssemos que dá para a gente sair dessa situação om esse grupo de jogadores. Isso não quer dizer que a gente não vai atrás de ninguém, mas esse atrás tem de ser de um jogador que possa vir e fazer a diferença.