Léo, Gregore, João Pedro, Edson, Allione e Kayke. Posições diferentes, origens distintas, mas um ponto em comum. Os seis formam o restrito grupo de jogadores que estão no elenco profissional do Bahia por empréstimo. O número é reduzido em comparação com os últimos anos e faz parte de uma estratégia adotada para fortalecer o Tricolor a médio prazo. Por uma ascensão financeira e técnica, o clube baiano deixou para trás o rótulo de “barriga de aluguel”, reduziu a quantidade de reforços adquiridos em caráter temporário e passou a ter postura mais agressiva no mercado, com aquisição de peças a baixo custo e busca por jogadores em fim de contrato com outras agremiações.
Na atual equipe titular comandada por Guto Ferreira, Léo, Gregore e João Pedro são os representantes do grupo de jogadores que não pertencem ao Bahia. O lateral-esquerdo foi emprestado pelo Fluminense, enquanto o volante foi cedido pelo São Carlos, com uma cláusula que estabelece valor fixo por parte dos direitos econômicos e dá ao clube baiano a preferência de compra. O lateral-direito tem contrato com o Palmeiras e fica no Bahia, a princípio, até dezembro.
Zé Rafael foi comprado pelo Bahia no ano passado e atualmente é um dos jogadores mais valorizados do elenco (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia)
Nesta temporada, o Tricolor abriu os cofres para adquirir Élber, junto ao Cruzeiro, e Marco Antônio, da Desportiva Paraense. Também conseguiu ter em definitivo o meia Régis e o goleiro Douglas, que desembarcaram no Fazendão por uma espécie de permuta que envolveu, respectivamente, as vendas de Jean ao São Paulo e Juninho Capixaba ao Corinthians. Nino, Élton, Mena, Nilton e Douglas Grolli estavam livres e chegaram como “oportunidades de mercado”.
- Se você observar hoje, o Bahia talvez seja um dos times nacionais com maior índice de atletas com contrato definitivo com o clube, contrato federativo. Acho muito difícil que tenha outro clube com uma proporção maior do que o Bahia. Eu não sei ao certo, mas é muito difícil, porque mais de 80% dos atletas que vêm jogando habitualmente são atletas próprios. E isso é muito raro. Isso é uma estratégia. Não é fruto do acaso. É uma estratégia justamente de, às vezes, pegar um atleta que tenha, no começo, um rendimento esportivo menor, seja menos experiente, mas, a partir do momento em que ele ganhe um status, uma qualidade técnica, confiança, ritmo de jogo, e ele é um atleta do clube, é bem melhor do que pegar um atleta mais pronto, que vai dar um resultado em curto prazo, mas não é do clube e, no final do ano, vai embora e a gente tem que viver de aluguel de jogador – comentou o presidente Guilherme Bellintani em conversa com o GloboEsporte.com.
A postura de contratar peças para compor o elenco a longo prazo não foi iniciada na gestão de Bellintani. Ainda na administração de Marcelo Sant’Ana, Jackson foi comprado do Internacional e assinou vínculo válido até 2020. Edigar Junio foi adquirido junto ao Atlético-PR e tem contrato até o fim de 2019. Após um período de empréstimo, Tiago também assinou em definitivo com o Tricolor, em negociação que envolveu a ida do volante Gustavo Blanco para o Atlético-MG.
Entre 2015 e 2017, outros jogadores chegaram ao Bahia em caráter definitivo. Alguns como “janelas de oportunidade”, casos do zagueiro Lucas Fonseca e do volante Juninho, que está emprestado ao Ceará. A prática não teve 100% de eficácia, e o clube reuniu equívocos, a exemplo do lateral Tinga, o zagueiro Gustavo e o meia Renato Cajá. Mas também houveram acertos de grande impacto, como é o caso do meia Zé Rafael, comprado no ano passado por cerca de R$ 500 mil e atualmente um dos jogadores mais valiosos do elenco.
Retorno financeiro
Mendoza se destacou pelo Bahia na temporada passada, com oito gols em 31 jogos realizados. No início deste ano, o Corinthians vendeu o atacante ao Amiens, da França, por cerca de R$ 3,8 milhões. O Tricolor, que teve o jogador por empréstimo, sequer viu a cor do dinheiro. O caso do colombiano não é isolado. Nos últimos anos, o clube baiano abriu espaço para peças que, após bom rendimento técnico, deixaram o Fazendão sem resultar em retorno financeiro.
Ter jogadores em definitivo elimina as chances de ficar com as mãos abanando em caso de venda. Recentemente, o clube conseguiu arrecadar com negociações de jogadores formados nas categorias de base. Mas ainda não foi desta vez que lucrou com um atleta contratado de outra agremiação. Guilherme Bellintani espera que este cenário se transforme dentro dos próximos anos, com uma prática de transferências que impulsione o orçamento tricolor.
É uma estratégia de médio prazo. Se você for observar, o Bahia é um dos clubes brasileiros de Série A que tem menor arrecadação com venda de atletas. Ou seja, o nosso orçamento nunca vai crescer significativamente se não tiver um valor específico anual decorrente de venda de atletas. Então, quando a gente percebeu isso, esse descolamento de orçamento do Bahia em relação a outros orçamentos de clubes nacionais, a gente viu a causa disso. Primeiro, uma divisão de base que precisa de uma reformulação, e nós já começamos essa reformulação na nossa divisão de base para a gente formar mais atletas. E, segundo, fazer contratos com atletas jovens, que tenham uma perspectiva promissora, para que o Bahia seja vitrine para os próprios atletas do Bahia – pontuou Bellintani.
Além da possibilidade de obter lucro, ter direitos econômicos e federativos da maior parte do elenco proporciona ao Bahia a chance de minimizar a necessidade de reformular o elenco ao fim de cada ano. Com jogadores contratados a longo prazo, o Tricolor precisaria apenas repor peças negociadas e suprir carências identificadas na temporada anterior.
O futuro
Com um elenco formado majoritariamente por peças com contrato a longo prazo, a diretoria tricolor espera não apenas ter independência, mas também ceder jogadores em caráter temporário a outros clubes. Com a prática, atletas com pouco espaço teriam a chance de ganhar experiência e obter valorização que não conseguiriam no Fazendão. O Tricolor também poderia aproveitar o retorno daqueles que conseguissem destaque para ter reforços sem custos na temporada seguinte.
Isso ocorre atualmente, mas em pequena escala. Após duas temporadas com lesões e poucas oportunidades, Yuri foi emprestado ao CSA. Pelo clube alagoano, o volante acumula 16 partidas em 2018. Ele tem contrato com o Bahia até o fim do próximo ano. Outro ponto da estratégia é utilizar equipes como vitrine para vender atletas e obter retorno financeiro.
- Não só o elenco do próprio Bahia, mas que o Bahia passe a ser também, o que é muito relevante nessa estratégia de venda de jogador, de atletas, contratos, que é o Bahia passar a ser um clube emprestador e não um clube que pega o empréstimo. Isso é muito relevante - Guilherme Bellintani
- Para que o clube seja um clube que arrecade bem com venda de atletas, a gente precisa não só fazer com que o nosso elenco seja um elenco próprio do clube, com direitos federativos aqui, mas que também a gente tenha jogadores com direitos federativos nossos emprestados a outros clubes e que joguem habitualmente ao longo do ano, seja em Série A, B ou C, para que a gente tenha uma vitrine muito maior do que a nossa pequena vitrine do nosso próprio clube – avalia Bellintani.
Ainda sobre o futuro, o Sub-23 é uma arma para o Bahia. A intenção é testar jogadores jovens na equipe de aspirantes, para que eles possam amadurecer dentro do próprio clube e sejam utilizados no profissional quando necessário. Os contratos são curtos, em maioria até o fim da temporada, mas o clube pretende estender o vínculo das peças que obtiverem sucesso.
Além disso, o Sub-23 pode proporcionar aos jogadores das divisões de base amadurecimento para melhor aproveitamento no profissional. Assim, o Bahia abre uma porta para ter um time cada vez mais identificado com o clube, e jogadores que, pelo longo tempo no Fazendão, conhecem a estrutura e entendem a dinâmica do Tricolor.
- É um dos principais motivos pelos quais a gente optou e fez um esforço grande para estar no sub-23. Estamos fazendo... O nosso time sub-23 vai ser uma mescla de atletas originários das nossas divisões de base, do nosso sub-20, com atletas jovens, que vêm com contratos em definitivo com o clube, seja por parceria com outros clubes ou contratos exclusivamente com a gente, para montar esse time. Um time que, naturalmente, não chega com a perspectiva de disputar título, de estar na cabeça. É o primeiro campeonato sub-23 da gente. Mas chega com uma perspectiva de criar uma transição melhor entre o sub-20 e o time profissional e, ao mesmo tempo, gerando vitrine, não só para outros clubes que queiram olhar para os jogadores do Bahia, mas para o nosso próprio time profissional, que está jogando a Série A, por exemplo, poder pegar dois, três, quatro, cinco atletas desses que estão se destacando no sub-23 e aproveitar no profissional - conclui Bellintani.