A carreira de decepções de um talento "escondido": bola cheia, testes, dores...
A história de Bruninho começa num atropelamento. Aos três anos de idade, desatento, atravessou sem olhar uma rua da sossegada cidade de São Pedro da Aldeia e teve a perna esquerda arrastada pelo pneu do carro. A cicatriz que existe até hoje prova o quão feia a coisa foi, e a recuperação, por conta disso, levou um bocado de tempo. Mas logo ele estava bem o suficiente para descobrir o que sabia fazer como poucos naquela idade: jogar bola. E o menino jogava muito, é o que família, amigos e quem estava em sua volta afirmavam sem hesitar. "Ele era dado como certo", recorda Chico, o pai, parecendo não acreditar no enredo dramático e na carreira de decepções que o filho (agora com 17 anos) viria a ter pela frente. Uma história de testes em quase 10 clubes - o Real Madrid entre eles -, cirurgia, vídeos que lhe renderam alguns momentos de fama e a certeza de que um talento está sendo perdido.
- A gente está esperando uma oportunidade, né. Ele está escondido aqui - lamenta Ricardo Ribeiro, o irmão mais velho.O dom deu o primeiro sinal de vida por acaso, quando Bruninho fez sete gols numa mesma partida de futsal. Normal. Não demorou muito para se tornar o craque da escolinha Vovô Lima. Certa vez, num amistoso contra o Vasco, sua equipe perdeu por 10 a 2, sendo os dois gols de honra anotados por ele, com nove anos na época. Resultado: foi convidado para treinar na base do Cruz-Maltino, que se tornou sua casa por três anos. O garoto fez parte da geração que tinha, por exemplo, Mateus Pet, Andrey, Evander e companhia... até as sequelas daquele atropelamento aflorarem de uma maneira devastadora. O osso da perna esquerda simplesmente parou de crescer, e o "pé estava pendurado", como lembra o irmão. A intervenção cirúrgica o tirou dos campos por três anos.
Quando voltou, o desânimo estava debruçado sobre Bruninho. Estavam de novo em São Pedro da Aldeia, mas o pai propôs o retorno ao Rio e a retomada dos treinos no Vasco. O filho é que não quis.
- Quando estava no Vasco, eu não jogava. Só treinava, porque só jogava quem tinha uma condição melhor, essas coisas. De três anos que eu fiquei lá, só fiz dois, três jogos - lembra.
Pequenininho, muito veloz, intimidade com as duas pernas e um faro de gols apurado. Bruninho chamava atenção desde pequeno, isso é fato. Os vídeos do menino jogando bola viralizaram de tal maneira que foram parar no "Fantástico". Guilherme, irmão de Bruninho que faleceu há pouco tempo vítima de um acidente de moto, foi quem enviou as gravações ao programa em 2007. Não deu outra: ele foi eleito o Bola Cheia do mês de dezembro daquele ano.
O vídeo dá uma pequena noção do talento de Bruninho (assista a partir de 46seg). Tadeu Schmidt não sabe, mas, naquele momento, colocou um apelido que perseguiria o garoto para o resto da vida: Romarinho.
E olha que nem acordado ele estava quando seus vídeos foram ao ar no programa.
- Eu nem vi, estava dormindo, né? (risos). Mas aí pegou o Romarinho - lembra Bruninho, que tinha nove anos na época,
O desânimo do futebol após a recuperação da cirurgia durou pouco tempo, e logo Bruninho e sua família estavam em busca de um clube de futebol. O reconhecimento pelos vídeos e também pelo tempo em que atuou no Vasco rendia prestígios. Como um empresário que prometeu levá-lo à Espanha para fazer um teste no Real Madrid, por exemplo. E ele foi.
Imagine só a expectativa de um menino prestes a receber uma oportunidade em um dos maiores clubes do mundo. Imagine agora a da família, humilde como ela só, sabendo que os problemas financeiros poderiam estar chegando ao fim. A realidade, nesse caso, foi insignificante diante da expectativa.
- Os caras falaram que iam fazer teste no campo. Só que quando cheguei lá, foi outra coisa, fui fazer teste num time separado que não era do Real Madrid. Foi no society. Lá eu não entendia nada do que eles falavam, aí ficou muito difícil pra eu passar. Fiz uma semana de teste - lembra Bruninho.
O irmão Ricardo foi quem acompanhou o pequeno na época.
- O futebol lá (na Espanha) é muito diferente, é muita correria. Então eles botaram ele mais em uma escolinha, sabe. As crianças não estavam no nível dele. Se ele quisesse jogar o futebol que ele joga, não ia conseguir lá. Não tinha toque de bola, troca de passe. Eu via ele isolado, não tinha como ele fazer o que fazia - explica.
Foi uma desilusão e tanto. E pior: a primeira de muitas que estavam por vir. De volta ao Brasil, receberam outro convite, desta vez para fazer um teste no Sporting Lisboa, de Portugal. O intermediador foi Isaías, ídolo do Benfica e que mora em uma cidade vizinha de São Pedro atualmente,
Lá foi Bruninho para mais uma tentativa. E mais uma decepção.
- Foi a mesma coisa (do Real Madrid), eles estavam de férias. Fiquei com ele lá 27 dias, e ele participou apenas de uma colônia de férias que teve no clube com crianças que não jogavam bola, os pais estavam pagando para deixar as crianças lá - quem recordou foi o pai, acompanhante na viagem.
Bruninho também já tentou a sorte por conta própria no Flamengo, Fluminense, Botafogo, Santos, Guarani e Ponte Preta. Sem sucesso em todos eles. Com o pai e irmão mais velho de empregos fixos, um tempo foi dado a essa busca desenfreada. Ainda assim, o menino vem brilhando... nos gramados de várzea da região, aos sábados e domingos apenas. Ele quer, sim, ser um jogador de futebol. Só não sabe como.
Autor: ,postado em 05/09/2016
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