Quando entrar no ringue no Mangueirinho, em Belém, neste sábado, um filme vai passar na cabeça de Acelino Popó Freitas. Um longo e emocionante filme, aliás. As lembranças desde que iniciou sua carreira aos 14 anos como amador em Salvador, na Bahia, até o primeiro título mundial em 1999. Em flashes, vai relembrar das outras três vezes em que recebeu a alcunha de campeão mundial e também dos memoráveis nocautes. Em 42 lutas até o confronto deste fim de semana, venceu 40, sendo 34 por nocautes. Caiu duas vezes. Mas aprendeu a levantar. E vai fechar esse ciclo como um dos maiores pugilistas da história do país diante do mexicano Gabriel "El Rey" Martinez, dono de um bom cartel, com 41 lutas (29 vitórias, sendo 16 por nocaute).
- São 27 anos, né? Mas a gente sabe a hora, o atleta de alto rendimento que já deu tudo, derramou sangue, suor, já bateu, já apanhou, derrubou, ele sabe a hora de parar. Essa é uma boa hora, um bom momento. Tenho 41 anos, é uma faixa etária que todos os campeões mundiais, Mayweather e Pacquiao, por exemplo, pararam... Eu já fiz tudo pelo boxe, não tenho mais nada a provar. Se eu não parar com o esporte, pode ser que ele me pare. Meu esporte não é futebol, handebol, basquete, é esporte de soco, de muito contato mesmo. Acredito muito (que vai passar um filme). Lembro os detalhes, as dificuldades, os títulos e onde passei deixei boas amizades. Vou lembrar de quem me motivou, me incentivou - comentou o pugilista.
Popó contou que fez dois meses de preparação intensa em Belém para o confronto e que sentiu bastante o peso da idade nesse período.
- A preparação a gente já sabe como é. Mas vamos botar aí uns 10 anos atrás... Eu há 10 anos atrás pegava o preparo físico em 15 dias. É diferente. A idade chega. Para perder peso, é mais difícil. Você tira rápido, mas volta rápido. Para manter é difícil. Com experiência a gente vai resolvendo. Lutar para mim é mais fácil. Mas a experiência antes da luta, treinar todo dia, perder peso, ninguém sabe fazer de maneira mais fácil que dê certo, tem que ser difícil mesmo. É muito cansativo. Mas graças a Deus deu certo.
Recentemente, Popó chamou a atenção ao anunciar que faria uma homenagem ao filho Juan, de 17 anos, que é homossexual, e entraria no ringue para sua luta de despedida no dia 11 de novembro ao som do hit "K.O.", da cantora Pabllo Vittar. De acordo com o lutador, ele fez uma reunião com familiares e amigos e tomou a decisão de entrar com a canção "Vai Popó, bate sem dó!", que foi tocada em seus dois últimos confrontos e deu sorte, já que o tetracampeão mundial venceu por nocaute.O lutador explicou a situação.
- Particularmente, se teve (quem criticasse), não procurei saber. É uma despedida, uma coisa minha, então eu tenho que fazer o que me sinto bem. Conversei com o próprio Juan e tudo o mais. Foi uma época ali de empolgação. Não tinha nada para esconder, não sou uma pessoa preconceituosa, não precisa provar e mostrar nada. Foi pelo clipe, pela música em si. É bem bacana. Mas escolhi outra música para a despedida - falou.
Popó quer se despedir com vitória do boxe (Foto: Reprodução / Instagram)
Da Bahia para o boxe profissional
O início da carreira de Popó como amador foi aos 14 anos na Bahia. Desde então, ele já demonstrava ter um talento especial. De cara, foi campeão baiano. Depois, aos 15, levou o título de campeão Norte-Nordeste. Foi campeão brasileiro com 17. Em 1995, foi convocado para a seleção brasileira e disputou os Jogos Pan-Americanos em Mar Del Plata. De lá, saiu com uma medalha de prata. A partir daí, decidiu se dedicar ao boxe profissional.
A trajetória até o primeiro título mundial
Logo na primeira luta, venceu por nocaute aos 34s do primeiro round. Na sexta, foi campeão do Mundo Hispano pelo Conselho Mundial de Boxe (WBC), dando o primeiro passo rumo ao título mundial. Levou o título latino da Federação Internacional de Boxe (IBF) contra o colombiano Arcelio Diaz e, no confronto seguinte, fez sua primeira luta fora do Brasil, na Costa Rica, tendo vencido também por nocaute. Novamente no cenário nacional, foi campeão brasileiro na categoria super-leve em 1998. Em outubro do mesmo ano, ganhou o título regional da Organização Mundial de Boxe (WBO), chamado NABO, ao desbancar José Luis Montes, do México, no 1º round. Mais uma vez, deu K.O.
Em 1999, fez a defesa desse título e teve sucesso diante de mais um mexicano, Juan Angel Macias, por nocaute, no oitavo round. Em 7 de agosto daquele ano, Popó derrubou na França o campeão Anatoly Alexandrov e levou o título do super-pena da WBO.
- Meu primeiro título mundial mudou minha vida, mudou minha família, mudou a cara do esporte, que não tinha cara nenhuma, estava muito apagado. O Brasil estava há 25 anos sem ganhar um título mundial. Foi uma mudança de vida ali, mudança de hábito.