Com recorde maior que Schumacher, Chloé briga por título mundial em Taiwan

O Brasil nunca havia vencido uma etapa do Circuito Mundial na elite feminina do longboard até este ano, mas uma carioca de 22 anos tratou de mudar os rumos da história. Campeã da etapa de abertura da temporada na Papua Nova Guiné, Chloé Calmon pode escrever outro capítulo com o inédito título mundial. Atual líder do ranking, ela vem de uma sequência de 27 pódios seguidos, um recorde superior ao do ex-piloto da Fórmula 1 Michael Schumacher, que chegou a 21 consecutivos no auge da carreira. A decisão será na segunda e última etapa do Tour, nas ondas de Jinzun Harbor, em Taiwan. A janela do campeonato fica aberta de 23 de novembro a 3 de dezembro.
- Nos últimos anos, eu tenho conseguido resultados muito bons e mantido uma estabilidade de resultados. Claro, o meu objetivo é ser campeã mundial, mas eu tenho curtido muito a minha jornada até lá. Eu acho que até ano passado, eu pensava: "Ah, eu quero muito ser campeã mundial". Eu colocava toda a minha energia nisso, mas, às vezes, quando as coisas não saíam do jeito que eu queria, eu ficava muito para baixo, frustrada, sendo que se eu olhar todo o trabalho que eu tenho feito há três anos mais ou menos, não é só um campeonato que diz, é toda a trajetória. Eu fico feliz com todos esses resultados, mas sei que isso não garante nada no futuro e eu continuo treinando forte da mesma maneira que eu treinava antes do meu primeiro pódio. Eu gosto de me dedicar, treinar e fazer tudo da melhor maneira possível - disse Chloé Calmon.
Há quase três anos, a carioca não sai do pódio e terá a chance de largar na "pole position" da corrida pelo título em Taiwan. Atual vice-campeã mundial, Chloé ainda carrega na bagagem dois terceiros lugares, em 2015 e 2014. A estreia na República na China será contra a japonesa Natsumi Taoka e outra surfista a ser definida (wildcard), na terceira bateria do round 1. O brasileiro bicampeão mundial Phil Rajzman também briga pelo troféu em Taiwan e inicia a sua caminhada em uma bateria com os australianos Jared Neal e Jack Entwistle pela primeira fase.
Antes da viagem, Chloé estrelou um clipe especial produzido pelo Canal Off. As cenas que são parte de um episódio estrelado pela surfista em uma série sobre leveza e diversidade das mulheres em seus esportes, dirigida por Luiza Campos e produzida de Camila Salles, com estreia prevista para 2018. O vídeo está disponível no aplicativo do Canal Off:
Título mundial decidido em duas etapas
Até a temporada passada, o título era definido em uma única etapa na China, em dezembro, no entanto, neste ano, contarão os resultados das etapas da Papua e de Taiwan. Em 2014, ela resolveu correr também a temporada pelo LQS, circuito de classificação para a elite, que inclui oito etapas pelo mundo. Embora não precise dos pontos por já estar garantida no Circuito Mundial, a carioca usa a divisão de acesso para manter o ritmo das competições, estar em contato com outras surfistas e ter mais experiência de baterias, ondas e condições do mar.
- Por vários anos, o título mundial de longboard acontecia só em uma etapa, na China, em dezembro. Às vezes, era difícil porque eram 12 meses de treino para competir em uma semana. Sempre tinha expectativa, ansiedade e um nervosismo a mais por ser um campeonato por ano. Quem ganhasse aquele evento, seria campeã mundial. De três anos para cá, resolvi correr o LQS. Eu corro mais como uma forma de me manter motivada, de estar competindo sempre, ganhar mais experiência de bateria e não ser só uma competição o ano inteiro. O LQS é um circuito forte para estar em contato com as competidoras, ondas e passar por vários desafios para chegar tranquila no Mundial - comentou Chloé.
- No ano passado, quando eu fui vice-campeã mundial, foi o melhor resultado da minha carreira, mas, ao mesmo tempo, o pior. Eu fiquei muito nervosa na final e fiquei muito chateada com o resultado, enfim, mas isso foi uma ótima forma de aprendizado para chamar a minha atenção da forma como eu olhava para todas as coisas - acrescentou.
Água como habitat natural
Nascida e criada nas ondas do Rio de Janeiro, Chloé ainda usava fraldas quando subiu em uma prancha pela primeira vez, influenciada pelo pai, Miguel. Desde cedo, a carioca fez da água o seu habitat natural. Ela começou a competir aos 12 anos e entrou para o circuito aos 15. Ali, Chloé percebeu que aquele era o seu lugar, mas ela sabia que tinha longa estrada de treinos, escolhas e renúncias para trilhar até chegar ao topo entre as melhores do mundo. Não demorou para a ser apontada como um dos maiores talentos da nova geração, e a promessa logo virou realidade. Dedicação e amor ao esporte são palavras que regem o seu estilo de vida.
Em constante movimento, Chloé surfa em vários momentos do dia para sentir as marés, o vento, o tamanho do mar, testar pranchas e quilhas. Fora da água, pratica atividades aeróbicas para ter um bom preparo físico, corre na areia, pedala, faz spinning, musculação, treino funcional ou outro específico, yoga e uma série de coisas que ajudam no surfe. Quando está no Rio, faz um "intensivão" com o seu preparador físico, Guilherme Domenico, para manter a forma e prevenir lesões. Algumas viagens podem durar três meses, portanto, ela tem uma vida regrada. Se chover e ela não puder correr, exemplo, o treino é no quarto. Dedicação e amor são palavras que traduzem o estilo de vida da atleta, que gosta de estar sempre perto no mar.
- Não consigo me ver fazendo outra coisa que não seja surfar. O meu estilo de vida é muito ativo, estou sempre fazendo alguma atividade, não consigo ficar 24h muito parada, e sou muito ligada à natureza e à água, principalmente. Quando vou a lugares longe do mar, eu começo a ficar agoniada, gosto de ficar perto do mar mesmo quando não tem onda, isso me traz tranquilidade. É no surfe onde eu encontro a minha paz de espírito e consigo me limpar de qualquer sentimento ruim ou problema, que são logo lavados quando estou na água.
Aventuras pelo mundo
O surfe a levou para lugares inimagináveis e a fez viajar o mundo. Passou por lugares como Austrália, Espanha, França, Portugal e Peru até os picos mais isolados e tribais, conhecendo culturas e vivenciando experiências únicas que ela carregará para o resto da vida. Com o tempo, foi mudando sua forma de olhar as competições e passou valorizar cada vez mais a jornada. Cada lugar a marcou de uma forma. Ela já velejou pelo Oceano Pacífico por dois meses e se desconectou de tudo. A expedição em busca de ondas nunca surfadas em uma expedição começou nas Ilhas Marshal, passou pela Micronésia, Ilhas Salomão e o norte da Nova Guiné.
- Viver num barco em dois meses, na água sete dias por semana foi uma experiência incrível. No meio da viagem, encontramos com um ciclone no caminho e tivemos que nos abrigar em um atol, entre Micronesia e a Papua Nova Guiné, que geograficamente é o lugar mais isolado do mudo. E a ilha quando precisa de recursos, um navio com todas essas coisas leva dois meses para chegar. Se você tiver alguma emergência para semana que vem, impossível. Eles são muito isolados, mas tem uma vida muito autosuficiente, vivem da pesca, da natureza, não tem eletricidade, nada disso. Mas quando a gente chegou com medo querendo se abrigar, eles forma super solicitos e receptivos, abriram a casa deles e receberam a gente super bem.
Escorpião e cigarra no palito
Entre os momentos exóticos, ela surfou a famosa pororoca chinesa e experimentou alguns pratos típicos do país, como escorpião e cigarra no palito, camarão vivo e água viva.
- Eu nunca pensei que eu fosse para a China alguma vez, ainda mais pra surfar. Já fui nove vezes. O título mundial era decidido lá e eu fui convidada algumas vezes para surfar a pororoca chinesa. Ir para um lugar que não tinha cultura de praia, que era um lugar fechado para o Ocidente, no primeiro contato, às vezes, a gente julga o diferente como errado, eles comendo com a mão ou fazendo barulho quando come... Quando você tem esse contato, você deixa o julgamento de lado e vê que não tem certo e errado. Você tem muito a aprender com essa troca de experiências muito rica. Na China foi onde eu comi as coisas mais estranhas da vida.
Outro momento marcante pelo mundo foi em um atol nas Ilhas Marshal. O arquipélago que funcionou como uma base americana na Segunda Mundial é conhecido pelos naufrágios de navios e aviões. A viagem nas Ilhas Marshall foi sob o comando do navegador australiano Martin Dailey, responsável por descobrir diversos picos internacionais na década de 70 e 80. Na Indonésia, ele descobriu há 30 anos Mentawaii, arquipélago que se tornou um dos melhores destinos de surfe.
- Na Guerra do Pacífico, os aviões eram atingidos e caíam, é a região mais rica em termos de naufrágios do mundo. Eu mergulhei por cemitérios de aviões, com 20 aviões no fundo do mar, navio nazista, muito cena de filme. Entrar e ver várias ilhas ainda com restos de bunkers e de estruturas militares da época, as barreiras como se fossem torres de observação para ver quando os outros barcos chegassem, tudo numa água muito cristalina. A gente mergulhava 20m, 30m de profundidade e conseguia enxergar tudo muito bem, entrava nos aviões e nos navios. Tem muita visibilidade e dá pra explorar da melhor maneira possível.
Mudança de pensamento
Antigamente, ela pensava que só poderia se divertir em casa, com a família ou os amigos, e que a competição era coisa séria. Quando chegou à Papua Nova Guiné depois de uma longa viagem, em um lugar isolado, desconhecido e fora de sua zona de conforto, Cholé não tinha grandes expectativas. Mas foi justamente ali onde ela encontrou o equilíbrio ideal.
- Na primeira etapa, na Papua, eu fui totalmente desprendida de resultado, era um lugar que eu nunca tinha ido e eu não sabia como era a onda. Eu não sabia o que esperar, a gente estava num lugar super isolado da civilização, todo mundo teria que acampar e eu nunca tinha acampado na vida, então, era tudo novo. Não tinha nem como pensar em um resultado que eu buscava, eu tentei chegar e aproveitar a experiência inteira e acabou que eu consegui entrar na competição onde uma maneira muito relaxada que nem eu pensei que era possível. Eu sempre fui uma competidora muito séria, sempre levei isso muito a sério e eu achava que você não podia se divertir enquanto competia. Só que nesse evento eu consegui achar um balanço entre os dois, eu competi me divertindo, mais me diverti do que competi e isso abriu os meus olhos para enxergar a competição de uma forma diferente, e essa visão me trouxe os melhores resultados até então - analisou.
Cena de filme em pico isolado
Depois de um voo vindo da Austrália e de cinco horas de estrada até a ponta de território onde era o pico do campeonato, Chloé chegou à noite na Papua. Apesar do escuro, ela conseguia ouvir o barulho do mar e já teve uma sensação boa ao perceber que as ondas quebravam a alguns passos dali. Ela lembra que o lugar parecia uma cena de filme, com um acampamento de mais de 60 tendas para os atletas.
- A gente chegou no aeroporto, o menor aeroporto que eu já vi na minha vida, você descia da pista do avião e era floresta por todos os lados. De lá, eu estava no voo com alguns atletas e nós pegamos a estrada até o pico. Nessa ponta de território, tinha um surf club e uns quatro ou cinco quartos e o resto parecia cena de filme. Tinham montado um acampamento gigante para todos os atletas. É um lugar muito isolado e a população que morava naquela região provavelmente nunca viu um estrangeiro, ninguém de fora da tribo deles, é um lugar muito tribal. Eles viam pessoas surfando as ondas e ouviam falar que tinha uma competição lá. Toda a noite, vinha um povo de uma tribo e oferecia frutas frescas ou uma banda para tocar uma música para a gente.
Autor: ,postado em 22/11/2017
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O Brasil nunca havia vencido uma etapa do Circuito Mundial na elite feminina do longboard até este ano, mas uma carioca de 22 anos tratou de mudar os rumos da história. Campeã da etapa de abertura da temporada na Papua Nova Guiné, Chloé Calmon pode escrever outro capítulo com o inédito título mundial. Atual líder do ranking, ela vem de uma sequência de 27 pódios seguidos, um recorde superior ao do ex-piloto da Fórmula 1 Michael Schumacher, que chegou a 21 consecutivos no auge da carreira. A decisão será na segunda e última etapa do Tour, nas ondas de Jinzun Harbor, em Taiwan. A janela do campeonato fica aberta de 23 de novembro a 3 de dezembro.
- Nos últimos anos, eu tenho conseguido resultados muito bons e mantido uma estabilidade de resultados. Claro, o meu objetivo é ser campeã mundial, mas eu tenho curtido muito a minha jornada até lá. Eu acho que até ano passado, eu pensava: "Ah, eu quero muito ser campeã mundial". Eu colocava toda a minha energia nisso, mas, às vezes, quando as coisas não saíam do jeito que eu queria, eu ficava muito para baixo, frustrada, sendo que se eu olhar todo o trabalho que eu tenho feito há três anos mais ou menos, não é só um campeonato que diz, é toda a trajetória. Eu fico feliz com todos esses resultados, mas sei que isso não garante nada no futuro e eu continuo treinando forte da mesma maneira que eu treinava antes do meu primeiro pódio. Eu gosto de me dedicar, treinar e fazer tudo da melhor maneira possível - disse Chloé Calmon.
Há quase três anos, a carioca não sai do pódio e terá a chance de largar na "pole position" da corrida pelo título em Taiwan. Atual vice-campeã mundial, Chloé ainda carrega na bagagem dois terceiros lugares, em 2015 e 2014. A estreia na República na China será contra a japonesa Natsumi Taoka e outra surfista a ser definida (wildcard), na terceira bateria do round 1. O brasileiro bicampeão mundial Phil Rajzman também briga pelo troféu em Taiwan e inicia a sua caminhada em uma bateria com os australianos Jared Neal e Jack Entwistle pela primeira fase.
Antes da viagem, Chloé estrelou um clipe especial produzido pelo Canal Off. As cenas que são parte de um episódio estrelado pela surfista em uma série sobre leveza e diversidade das mulheres em seus esportes, dirigida por Luiza Campos e produzida de Camila Salles, com estreia prevista para 2018. O vídeo está disponível no aplicativo do Canal Off:
Título mundial decidido em duas etapas
Até a temporada passada, o título era definido em uma única etapa na China, em dezembro, no entanto, neste ano, contarão os resultados das etapas da Papua e de Taiwan. Em 2014, ela resolveu correr também a temporada pelo LQS, circuito de classificação para a elite, que inclui oito etapas pelo mundo. Embora não precise dos pontos por já estar garantida no Circuito Mundial, a carioca usa a divisão de acesso para manter o ritmo das competições, estar em contato com outras surfistas e ter mais experiência de baterias, ondas e condições do mar.
- Por vários anos, o título mundial de longboard acontecia só em uma etapa, na China, em dezembro. Às vezes, era difícil porque eram 12 meses de treino para competir em uma semana. Sempre tinha expectativa, ansiedade e um nervosismo a mais por ser um campeonato por ano. Quem ganhasse aquele evento, seria campeã mundial. De três anos para cá, resolvi correr o LQS. Eu corro mais como uma forma de me manter motivada, de estar competindo sempre, ganhar mais experiência de bateria e não ser só uma competição o ano inteiro. O LQS é um circuito forte para estar em contato com as competidoras, ondas e passar por vários desafios para chegar tranquila no Mundial - comentou Chloé.
- No ano passado, quando eu fui vice-campeã mundial, foi o melhor resultado da minha carreira, mas, ao mesmo tempo, o pior. Eu fiquei muito nervosa na final e fiquei muito chateada com o resultado, enfim, mas isso foi uma ótima forma de aprendizado para chamar a minha atenção da forma como eu olhava para todas as coisas - acrescentou.
Água como habitat natural
Nascida e criada nas ondas do Rio de Janeiro, Chloé ainda usava fraldas quando subiu em uma prancha pela primeira vez, influenciada pelo pai, Miguel. Desde cedo, a carioca fez da água o seu habitat natural. Ela começou a competir aos 12 anos e entrou para o circuito aos 15. Ali, Chloé percebeu que aquele era o seu lugar, mas ela sabia que tinha longa estrada de treinos, escolhas e renúncias para trilhar até chegar ao topo entre as melhores do mundo. Não demorou para a ser apontada como um dos maiores talentos da nova geração, e a promessa logo virou realidade. Dedicação e amor ao esporte são palavras que regem o seu estilo de vida.
Em constante movimento, Chloé surfa em vários momentos do dia para sentir as marés, o vento, o tamanho do mar, testar pranchas e quilhas. Fora da água, pratica atividades aeróbicas para ter um bom preparo físico, corre na areia, pedala, faz spinning, musculação, treino funcional ou outro específico, yoga e uma série de coisas que ajudam no surfe. Quando está no Rio, faz um "intensivão" com o seu preparador físico, Guilherme Domenico, para manter a forma e prevenir lesões. Algumas viagens podem durar três meses, portanto, ela tem uma vida regrada. Se chover e ela não puder correr, exemplo, o treino é no quarto. Dedicação e amor são palavras que traduzem o estilo de vida da atleta, que gosta de estar sempre perto no mar.
- Não consigo me ver fazendo outra coisa que não seja surfar. O meu estilo de vida é muito ativo, estou sempre fazendo alguma atividade, não consigo ficar 24h muito parada, e sou muito ligada à natureza e à água, principalmente. Quando vou a lugares longe do mar, eu começo a ficar agoniada, gosto de ficar perto do mar mesmo quando não tem onda, isso me traz tranquilidade. É no surfe onde eu encontro a minha paz de espírito e consigo me limpar de qualquer sentimento ruim ou problema, que são logo lavados quando estou na água.
Aventuras pelo mundo
O surfe a levou para lugares inimagináveis e a fez viajar o mundo. Passou por lugares como Austrália, Espanha, França, Portugal e Peru até os picos mais isolados e tribais, conhecendo culturas e vivenciando experiências únicas que ela carregará para o resto da vida. Com o tempo, foi mudando sua forma de olhar as competições e passou valorizar cada vez mais a jornada. Cada lugar a marcou de uma forma. Ela já velejou pelo Oceano Pacífico por dois meses e se desconectou de tudo. A expedição em busca de ondas nunca surfadas em uma expedição começou nas Ilhas Marshal, passou pela Micronésia, Ilhas Salomão e o norte da Nova Guiné.
- Viver num barco em dois meses, na água sete dias por semana foi uma experiência incrível. No meio da viagem, encontramos com um ciclone no caminho e tivemos que nos abrigar em um atol, entre Micronesia e a Papua Nova Guiné, que geograficamente é o lugar mais isolado do mudo. E a ilha quando precisa de recursos, um navio com todas essas coisas leva dois meses para chegar. Se você tiver alguma emergência para semana que vem, impossível. Eles são muito isolados, mas tem uma vida muito autosuficiente, vivem da pesca, da natureza, não tem eletricidade, nada disso. Mas quando a gente chegou com medo querendo se abrigar, eles forma super solicitos e receptivos, abriram a casa deles e receberam a gente super bem.
Escorpião e cigarra no palito
Entre os momentos exóticos, ela surfou a famosa pororoca chinesa e experimentou alguns pratos típicos do país, como escorpião e cigarra no palito, camarão vivo e água viva.
- Eu nunca pensei que eu fosse para a China alguma vez, ainda mais pra surfar. Já fui nove vezes. O título mundial era decidido lá e eu fui convidada algumas vezes para surfar a pororoca chinesa. Ir para um lugar que não tinha cultura de praia, que era um lugar fechado para o Ocidente, no primeiro contato, às vezes, a gente julga o diferente como errado, eles comendo com a mão ou fazendo barulho quando come... Quando você tem esse contato, você deixa o julgamento de lado e vê que não tem certo e errado. Você tem muito a aprender com essa troca de experiências muito rica. Na China foi onde eu comi as coisas mais estranhas da vida.
Outro momento marcante pelo mundo foi em um atol nas Ilhas Marshal. O arquipélago que funcionou como uma base americana na Segunda Mundial é conhecido pelos naufrágios de navios e aviões. A viagem nas Ilhas Marshall foi sob o comando do navegador australiano Martin Dailey, responsável por descobrir diversos picos internacionais na década de 70 e 80. Na Indonésia, ele descobriu há 30 anos Mentawaii, arquipélago que se tornou um dos melhores destinos de surfe.
- Na Guerra do Pacífico, os aviões eram atingidos e caíam, é a região mais rica em termos de naufrágios do mundo. Eu mergulhei por cemitérios de aviões, com 20 aviões no fundo do mar, navio nazista, muito cena de filme. Entrar e ver várias ilhas ainda com restos de bunkers e de estruturas militares da época, as barreiras como se fossem torres de observação para ver quando os outros barcos chegassem, tudo numa água muito cristalina. A gente mergulhava 20m, 30m de profundidade e conseguia enxergar tudo muito bem, entrava nos aviões e nos navios. Tem muita visibilidade e dá pra explorar da melhor maneira possível.
Mudança de pensamento
Antigamente, ela pensava que só poderia se divertir em casa, com a família ou os amigos, e que a competição era coisa séria. Quando chegou à Papua Nova Guiné depois de uma longa viagem, em um lugar isolado, desconhecido e fora de sua zona de conforto, Cholé não tinha grandes expectativas. Mas foi justamente ali onde ela encontrou o equilíbrio ideal.
- Na primeira etapa, na Papua, eu fui totalmente desprendida de resultado, era um lugar que eu nunca tinha ido e eu não sabia como era a onda. Eu não sabia o que esperar, a gente estava num lugar super isolado da civilização, todo mundo teria que acampar e eu nunca tinha acampado na vida, então, era tudo novo. Não tinha nem como pensar em um resultado que eu buscava, eu tentei chegar e aproveitar a experiência inteira e acabou que eu consegui entrar na competição onde uma maneira muito relaxada que nem eu pensei que era possível. Eu sempre fui uma competidora muito séria, sempre levei isso muito a sério e eu achava que você não podia se divertir enquanto competia. Só que nesse evento eu consegui achar um balanço entre os dois, eu competi me divertindo, mais me diverti do que competi e isso abriu os meus olhos para enxergar a competição de uma forma diferente, e essa visão me trouxe os melhores resultados até então - analisou.
Cena de filme em pico isolado
Depois de um voo vindo da Austrália e de cinco horas de estrada até a ponta de território onde era o pico do campeonato, Chloé chegou à noite na Papua. Apesar do escuro, ela conseguia ouvir o barulho do mar e já teve uma sensação boa ao perceber que as ondas quebravam a alguns passos dali. Ela lembra que o lugar parecia uma cena de filme, com um acampamento de mais de 60 tendas para os atletas.
- A gente chegou no aeroporto, o menor aeroporto que eu já vi na minha vida, você descia da pista do avião e era floresta por todos os lados. De lá, eu estava no voo com alguns atletas e nós pegamos a estrada até o pico. Nessa ponta de território, tinha um surf club e uns quatro ou cinco quartos e o resto parecia cena de filme. Tinham montado um acampamento gigante para todos os atletas. É um lugar muito isolado e a população que morava naquela região provavelmente nunca viu um estrangeiro, ninguém de fora da tribo deles, é um lugar muito tribal. Eles viam pessoas surfando as ondas e ouviam falar que tinha uma competição lá. Toda a noite, vinha um povo de uma tribo e oferecia frutas frescas ou uma banda para tocar uma música para a gente.
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