Judoca de 83 anos dá aulas de graça para crianças e jovens carentes em Jacareí,

As mãos já estão marcadas pelo tempo. Carregam 83 anos de história. Mas o cumprimento firme mostra que o corpo ainda é forte. Ressalta a vitalidade de Paulo Graça, mestre de judô que já usou a força para superar dificuldades da vida e que agora a utiliza para ajudar o próximo. A mesma mão que um dia pediu esmola, hoje ensina judô para alunos do projeto social que criou há quase 20 anos em Jacareí, no interior de São Paulo.
Ao todo, são cerca de 250 crianças, jovens e adultos aprendendo gratuitamente a modalidade ali. Muitos alunos são considerados de baixa renda. Quando o relógio marca 5h30, Paulo Graça ergue as portas de aço do galpão que serve de sede do projeto social. Um local simples, em que o tatame ocupa quase toda a área. Primeiro, faz a limpeza do espaço. Na sequência, veste o kimono para mais um dia inteiro de trabalho. O vídeo acima prova que energia não falta para ele nos treinos. Duas vezes por semana, utiliza o transporte público para ir em outros três bairros, sendo dois bem afastados do centro, para dar aulas.
As mãos já estão marcadas pelo tempo. Carregam 83 anos de história. Mas o cumprimento firme mostra que o corpo ainda é forte. Ressalta a vitalidade de Paulo Graça, mestre de judô que já usou a força para superar dificuldades da vida e que agora a utiliza para ajudar o próximo. A mesma mão que um dia pediu esmola, hoje ensina judô para alunos do projeto social que criou há quase 20 anos em Jacareí, no interior de São Paulo.
Ao todo, são cerca de 250 crianças, jovens e adultos aprendendo gratuitamente a modalidade ali. Muitos alunos são considerados de baixa renda. Quando o relógio marca 5h30, Paulo Graça ergue as portas de aço do galpão que serve de sede do projeto social. Um local simples, em que o tatame ocupa quase toda a área. Primeiro, faz a limpeza do espaço. Na sequência, veste o kimono para mais um dia inteiro de trabalho. O vídeo acima prova que energia não falta para ele nos treinos. Duas vezes por semana, utiliza o transporte público para ir em outros três bairros, sendo dois bem afastados do centro, para dar aulas.
A rotina é puxada, mas não gera renda extra para Paulo Graça, aposentado pela Polícia Rodoviária Federal. Pelo contrário. Graça mensalmente usa parte da aposentadoria para bancar o projeto, que também conta doações de pais dos alunos e colaboradores. Mas a recompensa, segundo ele, não é financeira. A energia das crianças, que são maioria entre os alunos, serve de combustível para manter a vitalidade. É uma mão lavando a outra.
– O sentimento é de alegria por estar junto (com os alunos). Vou para o Meia Lua (bairro de Jacareí) com dinheiro do meu bolso. Vou lá e dou aula. É gratificante estar junto com essas crianças. Vocês nem podem imaginar. Essa alegria revigora a gente, deixa a gente mais novo, com mais destreza. É uma alegria enorme. Agradeço a Deus por ter me direcionado para esta missão, para esse trabalho – destacou.
Formando cidadãos
Em um canto do galpão do Clube dos Rodoviários de Judô, fundado por Paulo Graça e onde é a sede do projeto, há uma prateleira com troféus. Não são muitos que estão expostos ali. Não por falta de conquistas, mas, sim, por falta de espaço. Segundo o mestre, muitos títulos não couberam na pequena prateleira. Desde que o projeto Paulo Graça Judô foi criado, no fim de 1999 e início de 2000, ele diz que alunos já ganharam troféus regionais, estaduais e até fora do país.
Para ver o projeto alcançar essas conquistas, Paulo Graça conta desde o início com a ajuda de colaboradores. Por exemplo, os treinos não são dados apenas por ele. Outros professores também participam das atividades. Os pais dos alunos fazem doações, organizam rifas, vendem pizza... Tudo para ajudar com os gastos e melhorar a estrutura do projeto, que tem alunos desde os quatro anos até com mais de 40.
Mesmo com o esforço, é visível que o galpão alugado ainda precisa de melhorias. Em dias de chuva, goteiras atrapalham a aula no tatame. Paulo Graça tem o sonho de receber ajuda de mais pessoas para melhorar o espaço e tocar o projeto, hoje sem nenhum patrocínio. Mas, enquanto novos apoiadores não chegam, nada de ficar lamentando.No treino acompanhado pelo GloboEsporte.com, Paulo Graça reuniu todos os alunos no tatame e, antes de começar a aula, chamou alguns para dar parabéns pelas conquistas do último fim de semana. A cada um que levantava, aplausos ecoavam no galpão. Palmas que orgulham Paulo Graça. Afinal, ver os pupilos tendo sucesso é o objetivo dele desde que idealizou o projeto.
– Fiz esse projeto porque vi minha vontade de treinar lá atrás. Falei que precisava ajudar essas crianças. O que eu passei, não quero que as crianças passem. Eu pedia esmola, engraxava sapato, fui chapa de caminhão, servente de pedreiro... Muitas vezes, o pessoal jogava dinheiro no chão para eu pegar. Depois de tudo que passei, pensei: "por que não vou ajudar essas crianças agora?”. Estou fazendo esse trabalho. Faço com gosto, dedicação – comentou.
Gratidão
Paulo Graça é venerado por alunos de todas as idades. Nos treinos, o respeito por ele é nítido. Além da tradicional reverência do judô, os alunos gostam de conversar com o mestre. Para os judocas que integram o projeto, seguir os ensinamentos do mestre significa prosperar na modalidade.
– Comecei a treinar com cinco anos de idade e, de lá pra cá, já tive vários avanços. Meu sensei me apoiou muito para chegar onde cheguei. O meu sonho é chegar um dia nas Olimpíadas – afirmou a aluna Rayssa Rodrigues, de 12 anos.
Rayssa Rodrigues e Isaac Araújo são alunos do projeto (Foto: Emerson Tersigni/GloboEsporte.com)
– Ele é meu grande líder, e pretendo alcançar meu objetivo, que é a Seleção Brasileira, seguindo as ordens dele. É difícil, mas nada que com luta você não consiga. Cada vez que vou crescendo, vou tendo mais influência para treinar – disse Isaac Araújo, de 17 anos.
História
Paulo Graça nasceu em 10 de abril de 1935, em Jacareí. Enxergava, nas lutas livres, a possibilidade de ingressar no mundo das artes marciais. Brincava com os amigos, sonhando um dia em ser um grande lutador. De família humilde, aprendeu com o pai o ofício de sapateiro. No início da adolescência, perdeu os pais. Assumiu, então, a responsabilidade de estudar, trabalhar e sustentar os irmãos.Graça iniciou, aos 13 anos, os treinamentos de judô na cidade de Suzano. Preocupado com os irmãos, chegou a fazer um acordo com Tokuzo Terazaki, então responsável pela academia, para que este colocasse comida na mesa da humilde família de Jacareí. Em troca do sustento, treinava.
– Eu costurava saco de farinho de trigo, que era grosso, e fazia o kimono para poder lutar. Comecei me destacar em Suzano. (...) Sofri muito preconceito, porque era o único negro que fazia judô. Tinha muito japonês. Me chamavam de kuro, que significa preto. Mas depois fizemos uma amizade extraordinária porque viram meu potencial – contou Graça.
Na década de 1960, ingressou na Polícia Rodoviária Federal para ensinar judô aos estagiários. Depois, foi contratado em definitivo para ser professor. Lá se aposentou, fazendo o que mais gosta: ensinar.
Autor: ,postado em 11/05/2018
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