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Planejamento, identidade e fator casa inexpressivo


Planejamento, identidade e fator casa inexpressivo

O rebaixamento do Vitória foi o desfecho lógico para o conjunto de erros cometidos ao longo da temporada 2018. O time baiano empatou sem gols com o Grêmio no último domingo, no Barradão, e encerrou uma via crúcis que durou 37 rodadas, com direito a exagerada dose de melancolia na reta final. Após três anos na elite do futebol nacional, o Rubro-Negro voltará a disputar a Série B, o que representará prejuízo financeiro, prestígio abalado e uma demanda urgente de reconstrução.

Não se explica a queda do Vitória somente com o desempenho dos jogadores dentro de campo. Também não é possível recortar o ano de forma isolada. Para analisar o rebaixamento da equipe baiana, é preciso ponderar ações que vão além de 2018. Nas últimas duas temporadas, o clube só conseguiu se salvar do Z-4 na última rodada. A diretoria comandada por Ricardo David assumiu o lube com a promessa de mudar esse panorama, mas a base do elenco que já havia fracassado no passado foi mantida. Os gastos exagerados de 2017 impediram o investimento em peças de maior expressão. O que, no entanto, não justifica a falta de eficiência nas contratações. Com reforços que não representaram ganho técnico considerável, foi preciso recorrer às categorias de base para solucionar antigos problemas.

No conjunto da obra, alguns personagens ganharam o rótulo de vilões. Ramon e Aderllan, pelos gols contra nas derrotas para Atlético-PR e Cruzeiro, respectivamente. Neilton pela má fase que durou todo o segundo semestre. Vagner Mancini pelas goleadas sofridas no primeiro turno. Walter Bou por não conseguir marcar sequer um gol com a camisa rubro-negra. Mas o principal culpado pelo rebaixamento do Vitória foi a falta de organização de forma geral. A queda veio por uma série de fatores, e não apenas pela falha de um goleiro ou por um atacante que errou o alvo.

Time titular sem identidade

O torcedor do Vitória vai ver o Campeonato Brasileiro chegar ao fim sem a certeza de qual é a equipe titular. Talvez isso passe pelos três treinadores diferentes ao longo da competição (Vagner Mancini, Paulo Cézar Carpegiani e João Burse). Mas eles também têm sua responsabilidade. O trio fez das mudanças um fator comum na equipe principal, claro, sempre em busca da melhor formação. Contudo, a impressão que o fim da campanha deixa é de que, mesmo com mais rodadas, o time titular estaria longe de ser encontrado.

Jogadores que chegaram a atuar pelo clube durante o Brasileirão: 45

Goleiros: Elias, Caíque, Ronaldo e João Gabriel;
Laterais: Bryan, Jeferson, Lucas, Cedric, Juninho, Pedro Botelho, Marcelo Benítez, Fabiano e Mateus;
Zagueiros: Bruno Bispo, Walisson Maia, Kanu, Aderllan, Ruan Renato, Ramon e Lucas Ribeiro;
Volantes: Willian Farias, Uillian Correia, José Welison, Lucas Marques, Léo Gomes, Arouca, Fillipe Soutto e Rodrigo Andrade;
Meias: Rhayner, Yago, Nickson, Guilherme e Alex Baumjohann;
Atacantes: Neilton, Léo Ceará, Luan, Eron, Denílson, Júnior Todinho, André Lima, Walter Bou, Wallyson, Maurício Cordeiro, Erick, Lucas Fernandes.

Para se ter uma ideia, em uma só edição do Brasileirão, o Vitória teve quatro goleiros titulares diferentes. Nove laterais chegaram a ser usados ao longo da competição. Isso sem contar com as vezes que os zagueiros Ramon e Bruno Bispo, ou o volante Rodrigo Andrade, foram improvisados no setor. Sem peças de qualidade, os treinadores não tiveram medo de “oxigenar” para encontrar a formação ideal. Só que a busca pelo time ideal não ajudou no entrosamento e no desenho da equipe titular, que termina a edição 2018 da Série A sem “uma cara”.

Defesa desajustada

O sistema defensivo do Vitória foi uma dor de cabeça desde o início do ano. E se, mesmo em competições de nível técnico inferior como Campeonato Baiano e Copa do Nordeste, a equipe sofreu para anular seus adversários, seria normal se esperar sufoco no Campeonato Brasileiro. E foi isso que aconteceu. O Rubro-Negro penou para segurar os rivais e carrega o rótulo de defesa mais vazada da competição, com 60 gols sofridos em 37 jogos.

Números que o Vitória alcançou em uma série de vexames. Dentre outros resultados, chamaram atenção as goleadas sofridas para o Santos (5 a 2), São Paulo (3 a 0), Palmeiras (3 a 0), Bahia (4 a 1), Atlético-PR (4 a 1), Grêmio (4 a 0) e Cruzeiro (3 a 0). As derrotas com placares dilatados são o retrato de um sistema defensivo que não se encontrou, mesmo com trocas e mais trocas. A exceção de Lucas Ribeiro, nenhum defensor deixa a temporada em alta pelo Vitória.

Fator casa inexpressivo

O Vitória não pode dizer que fez os adversários temerem o Barradão. O que reflete uma falta de aprendizado sobre o que aconteceu em 2017. Desde a temporada passada, o Rubro-Negro penou para fazer do seu estádio um caldeirão e empolgar o seu torcedor. Não à toa, tem uma das piores campanhas como mandante, com apenas sete triunfos em 19 jogos.

Nem mesmo quando fez promoção de ingressos e colocou mais torcedores no estádio o clube rubro-negro embalou. Em casa, o Vitória chamou atenção mais pelos resultados negativos que pelos raros triunfos. Foi batido por 3 a 0 para o Palmeiras, empatou o Ba-Vi em 2 a 2 em jogo que liderou o placar por duas vezes, só empatou com um Corinthians em má fase, e perdeu para Botafogo e Atlético-PR, que tinham campanhas ruins como visitantes.

Contratações no atacado e ineficazes

O Vitória pesou a mão nas investidas ao mercado da bola, mas não conseguiu converter quantidade em qualidade. Foram 26 reforços ao longo da temporada, metade deles contratados especialmente para a disputa do Campeonato Brasileiro. Um caso emblemático para ilustrar o baixo índice de acerto do Rubro-Negro na aquisição de novas peças é o do atacante Bruno Gomes. Contratado na reta final da pausa para a Copa do Mundo, ele ficou pouco mais de um mês na Toca do Leão. Sem chances, pediu para deixar o clube e sequer estreou com a camisa da equipe baiana.

As contratações feitas em 2018 incluíram dois goleiros, seis laterais, três zagueiros, quatro volantes, dois meias e nove atacantes. Apesar do número elevado, o papel de destaque ficou a cargo de atletas que já tinham um bom tempo de casa. Promovidos por Paulo Cézar Carpegiani, Lucas Ribeiro, Léo Gomes e Léo Ceará estavam no sub-23 e representaram um pequeno sopro de qualidade em um grupo que acostumou a torcida a um baixo nível de futebol.

Planejamento desastroso

A organização não foi o ponto forte do Vitória em 2018. No caminho até o rebaixamento, o clube trocou de diretor de futebol uma vez e promoveu duas mudanças no comando técnico da equipe. Além disso, pecou pela falta de “timing”. Os reforços que foram prometidos para o período sem jogos provocado pela Copa do Mundo desembarcaram na Toca do Leão quando restava pouco tempo de preparação. Três das contratações feitas no meio da temporada foram de estrangeiros, o que, segundo a diretoria, tinha por objetivo a Copa Sul-Americana de 2019. Durante as 38 rodadas da Série A, o Rubro-Negro nunca se firmou na zona de classificação para a competição continental, o que deixou a impressão de que “o carro ficou na frente dos bois”.

Além das contratações atrasadas, a diretoria optou por demitir Mancini quatro jogos após a pausa para a Copa do Mundo. O treinador havia comandado todo o período exclusivo para treinos e acabou substituído por Paulo Cézar Carpegiani, que durou pouco mais de dois meses no clube. Chegar ao fim da temporada com carências no elenco, embora tenha contratado 26 jogadores, é outro ponto que ilustra o planejamento deficitário do Vitória. O grupo não conta com meias com capacidade de organização de jogo. Com atletas com características parecidas, fica difícil a variação de estilo da equipe, que se acostumou a jogar de forma reativa, com pouca articulação pelo meio e muita velocidade nas laterais.

Autor: ,postado em 01/11/2018


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