Marcelo Filho dá as caras e dispara: ‘Era a vidraça, agora eu sou a pedra’

O nome de Marcelo Guimarães Filho não deixou de ser dito ou lido um dia sequer nos últimos dois meses. Afastado da presidência do Bahia por uma determinação judicial, o dirigente era presença constante nos noticiários. Mas se manteve recluso. Por orientação do advogado, o ex-presidente do clube passou por uma período de hibernação com a imprensa. Não atendia telefonemas nem retornava e-mails. Pronunciava-se somente através de notas oficiais e tentativas de liminares na justiça. No entanto, com a eleição de Fernando Schmidt para a presidência no último dia 7 e a divulgação do relatório de uma auditoria realizada no Tricolor, Marcelo Guimarães Filho deixou seu “esconderijo”.

O dirigente procurou jornalistas do jornal Correio*, de Salvador, e disse que queria falar. Uma verdadeira tropa foi montada para esclarecer com o dirigente os problemas apontados pela auditoria realizada pela empresa Performance. Dez repórteres de diferentes veículos, entre eles o GLOBOESPORTE.COM, participaram do encontro. Durante aproximadamente duas horas, Marcelo Filho foi sabatinado sobre a venda de Anderson Talisca, ingressos cedidos na Arena Fonte Nova, dívida do clube com empresa de seu pai, contratação de suas irmãs e o grande déficit apontado pela auditoria.
NÃO PERCA: Confira ainda neste sábado uma entrevista exclusiva com o presidente do Bahia, Fernando Schmidt
O ex-presidente do Bahia manteve a tranquilidade durante todo o tempo. Chegou rindo e brincando, acompanhado pelos ex-diretores Tiago Cintra, Sacha Mamede e Jorge Copello. Os dois últimos ficaram ao lado de Marcelo Filho durante a entrevista. Ajudaram na distribuição da pasta de documentos sobre a mesa e também com algumas colocações sempre que o dirigente esquecia de algo.
- Antigamente eu era a vidraça, agora eu sou a pedra – afirmou.
Marcelo Guimarães Filho afirmou que não teve acesso à auditoria, acrescentou o termo “presidente nomeado pela Justiça” ao nome de Fernando Schmidt, garantiu que segue a vida normalmente e que mantém a esperança de voltar ao comando do Esporte Clube Bahia. Disse ainda que não reconhece a dívida de R$ 83 milhões apontada no relatório e revelou ter planos políticos para 2014.
Ao chegar à sala da entrevista, logo pediu um copo com água. Já sabia ele que a maratona a partir dali seria grande. Era necessário manter a hidratação para não ser vencido pelo cansaço.
- Fiquei dois meses sem falar. Agora posso falar à vontade – brincou.
Aproveite também, torcedor, para ter sua água ou café por perto para acompanhar com atenção as explicações do ex-presidente do Bahia. Confira a primeira parte da entrevista abaixo.
Inicialmente, vamos falar desse "rombo" apontado pela auditoria. Segundo o documento, a dívida tricolor, no geral, é de R$ 83 milhões - nos últimos seis meses, de quase R$ 20 milhões. Como se cria um déficit de R$ 20 milhões em um semestre?
Marcelo Guimarães Filho: Bom, primeiro eu quero dizer o seguinte: não tenho dados para questionar a idoneidade, e seria leviano fazer isso com a empresa que realizou a auditoria. Mas eu digo com absoluta convicção que não é possível uma auditoria, seja ela de que empresa for, a mais conceituada que exista, que faça uma auditagem em um clube sobre um período de um ano e nove meses, que foi o que a intervenção se propôs, em 30 dias. Se você consultar qualquer empresa dessas aí e perguntar se é possível fazer esse trabalho minimamente consistente, todas lhe responderão que não têm tempo hábil para fazer essa avaliação. Essa é a minha opinião e só mostra a maneira, digamos assim, raivosa, como foi determinada que essa auditoria fosse feita. Aliás, o próprio juiz, quando determinou o despacho, foi bem claro. Ele disse “faça uma auditoria rigorosa nas contas do clube”. Acho que a palavra não cabia, porque ele deve ser imparcial, e talvez a palavra até tenha mostrado um ânimo dele no fato da auditoria.
Essa questão dos R$ 83 milhões, eu não tenho como lhe responder. Afirmo com toda certeza que é um absurdo chegar a esse número. Aliás, neste processo todo, eu ouvi o presidente nomeado pela Justiça dizer, inclusive ontem [quinta-feira], em entrevista a Juca Kfouri, que o rombo do Bahia era de R$ 200 milhões. Ele precisa se entender com a auditoria, porque ontem ele disse que era de R$ 200 milhões, nesse processo todo eu ouvi dizer que era R$ 120 milhões, agora a auditoria fala em R$ 83 milhões e, na imprensa, em determinados pontos, a própria auditoria fala que não teve tempo de pegar documentos em relação às dívidas trabalhistas, e portanto não teve tempo de fazer essa auditoria de forma correta.
Tenho aqui dados, um estudo feito pela BDO, que em maio deste ano divulgou a lista de dívidas de todos os clubes Brasil e mostrou que o Bahia, de 2011 para 2012, variou em apenas 5% a sua dívida, crescendo de R$ 58 milhões para R$ 61 milhões. Como é que esses R$ 20 milhões aparecem em seis meses? Sinceramente, não tenho como responder. Se você parar para raciocinar e fizer conta de padeiro, é praticamente impossível uma dívida crescer de dezembro até hoje em R$ 20 milhões. Eu não sei como a auditoria chegou nesse número e vou procurar saber. Vou pegar os dados da auditoria para tecnicamente responder, mas afirmo com toda certeza: é impossível ele ter chegado a esse número. Eu prefiro confiar na BDO, prefiro confiar na Pluriconsultoria, que são empresas reconhecidas nacionalmente. Se vocês fizerem a conta, o Bahia foi o sexto ou sétimo que menos cresceu em dívidas entre os 23 clubes analisados pela BDO. Como ele chegou a esses R$ 83 milhões, é impossível saber. Não sei como a Performance chegou a esses números.
E, só para completar, ela fala ainda aqui, que chama bastante atenção, o forte crescimento do valor da marca do Bahia, que passou de R$ 13 milhões, em 2009, quando eu assumi e era a 20ª do Brasil, para R$ 55 milhões em 2012, 15ª do Brasil, que é uma variação de 304% em apenas três anos. Esse é o maior crescimento entre os 17 maiores clubes do Brasil e muito superior ao crescimento médio do mercado, que foi, em média, 53%. Esse é um estudo que não fui eu que fiz, é da Pluriconsultoria. Isso são números. Eu vi muita gente dizer neste período todo para o atual presidente nomeado pela Justiça que ele precisava valorizar a marca do Bahia. Quem precisava valorizar fui eu, quando assumi o clube. Ele está pegando hoje a marca mais valorizada do Nordeste e uma das maiores do Brasil. Trabalho feito na nossa gestão.
Se a situação não é tão ruim, como você está falando, por que o Bahia não facilitou e até dificultou o trabalho da auditoria?
Eu discordo e contesto veementemente isso. Desde o primeiro momento, não houve nenhuma orientação para que se escondesse documentação do clube. Eles estiveram lá esse tempo inteiro, e afirmo: se eles não pegaram a documentação, é porque não tiveram tempo hábil para fazer uma auditagem com uma pessoa apenas, pelas informações que eu tenho, que ia no clube duas vezes por semana, durante esse período de 30 dias. É impossível você fazer uma auditagem em uma empresa do tamanho do clube que fatura R$ 50 milhões por ano, do tamanho que é essa empresa. Evidentemente que é muito cômodo, porque havia o prazo de se encerrar essa auditoria em 7 de setembro, que foi o prazo determinado pelo juiz e que tinha que terminar de qualquer maneira. Então, essa dificuldade é por conta disso, nada mais do que isso. Todos os contadores do clube estavam lá. Contador aliás, que é irmão de um dos maiores oposicionistas à minha gestão: Emanuel do Prado Vieira. O contador chama-se Raimundo do Prado Vieira, que é irmão de Emanuel, que entrou com uma ação contra mim. Prova de lisura maior do que essa, eu não consigo enxergar. É só vocês procurarem ele e saberem se ele esteve lá, se negou alguma informação, ou qualquer coisa do tipo.

A auditoria não usa essa palavra, mas fala em caos administrativo, como falta de recolhimento de FGTS, de impostos, ausência de ponto, hora extra, cálculo errado de adicional noturno... Você encara que o Bahia está em um caos administrativo?
Eu refuto a palavra 'caos'. Evidentemente, volto a dizer que todo mundo aqui tem inteligência e tem discernimento. É óbvio que a auditoria foi contratada com um intuito e óbvio que havia uma pressão, até certo ponto natural, para se achar algum resultado adequado às pessoas que fizeram essa contratação. Aí você pode brincar com as palavras. Você pode usar a palavrinha 'caos' para simplesmente dizer que um procedimento poderia ser ajustado, a palavra poderia ser outra e não 'caos', mas usam essa palavra para poder dar um ensejo para uma situação desconfortável, situação realmente de caos, que é o que a palavra diz. Mas não é.
Isso não significa que a gestão era fraudulenta ou era temerária. No caso do FGTS e INSS, todos os clubes devem, isso não é nenhuma novidade. Quando eu assumi, o Bahia devia. Na minha gestão, deveu e, daqui para frente, continuará devendo. Todos os clubes devem e nenhum têm condição de pagar.
E não têm condições de pagar por erros de gestão nos clubes?
Não têm condições de pagar, porque o mercado do futebol é um mercado que paga valores que, ao meu ver, são excessivos. Mas isso é fruto do mercado, é peculiar do mercado. Isso gera impostos dentro do cenário brasileiro, como a gente precisar estruturar melhor, reestruturar o clube. São coisas que não são só no Bahia. De cem empresas que nascem no Brasil, em cinco anos 90% delas morrem por conta do problema tributário. No caso do futebol, existe esse problema que é inerente ao negócio. É um problema que o Bahia teve e vai continuar tendo. Isso não significa que nós tenhamos nos apropriado indebitamente dos recursos que foram pagos e que não foram recolhidos. É diferente você não recolher o imposto para pagar salários de não recolher e colocar o dinheiro no bolso, que evidentemente não aconteceu.
A auditoria aponta que aconteceu...
Pois é, mas em que ponto? É isso que eu quero entender. Na matéria do jornal A Tarde, existe uma acusação gravíssima, e que eu quero desafiar a auditoria, desafiar quem participou da auditagem, o presidente colocado pela Justiça, porque o jornal diz que, no dia 13 de junho de 2013, houve um depósito de R$ 2,3 milhões, se não me engano, para determinada empresa. E eu quero que provem isso. Eles estão lá com dados, então eu quero que mostrem. Apontem quando é que foi feito isso. Apontem também qual foi o desvio.

horas de sabatina (Foto: Raphael Carneiro)
Essa empresa é a Consultiva, cujos sócios são seu pai e seu irmão. Por que o Bahia contratou a empresa cujos sócios são seus familiares?
O Bahia não contratou essa empresa. Talvez esse ponto seja o mais polêmico da questão, mas o que existe é o seguinte... (O assessor interrompe e Marcelo Guimarães Filho muda o assunto)
No caso do FGTS, especificamente, eu já tinha publicado isso outras vezes, fizemos um acordo de pagamento para todo FGTS devido pelo Bahia. Desde 1975, que é desde quando o Bahia deve. O atual presidente, nomeado pela Justiça, foi presidente de 1976 a 1979. Existem débitos de FGTS não recolhidos da gestão dele, que nós estamos honrando ou já honramos. Ele não recolheu impostos e, nem por isso, estou acusando e dizendo que ele não recolheu porque colocou dinheiro no bolso. Não deve ter recolhido porque teve dificuldades financeiras naquele momento e colocou dinheiro em outra coisa, como pagar salários. Isso deixa claro que esse problema vem desde muito tempo e vai continuar existindo sempre.
E, no caso dessa acusação, volto a dizer: quero que mostre e prove o que o A Tarde disse. Vamos processar o jornal e o jornalista por essa acusação específica e absurda de que houve esse depósito de R$ 2,3 milhões. Eles têm que provar. É uma coisa simples e não tem dificuldade nenhuma. Não estou falando de mil reais ou R$ 500. É uma acusação grave.
Já no caso da Consultiva, em 2005, quando eu não estava no Bahia, existia uma dívida do Bahia S/A com a empresa Postdata...
Cujo sócio também é seu pai...
É preciso ir na junta comercial para comprovar isso.
Eu estou afirmando...
Não. Não é e nunca foi. Você pode ver isso na junta comercial.
Mas é uma das empresas envolvidas na Operação Jaleco Branco...
O que não a torna de Marcelo Guimarães ou de qualquer outra pessoa. A pessoa precisa estar na junta comercial. Aliás, nessa operação [Jaleco Branco], ele não é o único acusado. São ele e mais 16 pessoas. Para ser dono, precisa estar na junta. Houve aqui um empréstimo que está lá na contabilidade do clube, de cerca de R$ 878 mil. É um empréstimo adquirido em 2000, mas eu não tenho mais esse documento. Esse empréstimo foi corrigido com 2,5% ao mês, que é um juros de mercado, porque o Bahia precisava de dinheiro na época. Foi feito um contrato, assinado pelo Bahia S.A., pelo Luiz Trócoli, indicado pelo banco, porque ele controlava o clube, era o homem de confiança de Daniel Dantas. Esse empréstimo foi feito com nota promissória para ser pago em 31 de agosto de 2006 e não foi feito.
Por que o Bahia pegou empréstimo com uma empresa de gestão de saúde (Postdata)?
Eu não estava no clube nessa época, mas imagino que pegou dinheiro porque precisava.
Mas com empresa de saúde?
Tem pessoa física que empresta dinheiro. Isso não é problema. E também precisa ser perguntado, à época, por que se recebeu esse dinheiro. Em determinado momento, esse débito de R$ 1,185 milhão não foi pago. A Postdata, que não recebeu o recurso, transferiu o crédito para a Protector. Em 2010, a Protector, que também não recebeu - está aqui o documento, está lá na contabilidade do clube, e imagino que aqui ninguém faz filantropia - tem que cobrar mesmo. Por exemplo, Gilberto Bastos que entrou no clube comigo, ele emprestou, a pessoa física à época, se não me engano, cerca de R$ 250 mil para pagar uma folha do mês de janeiro. Ele emprestou o dinheiro, e o Bahia pagou a ele depois, se não me engano, algo em torno de R$ 400 mil. Você pegou dinheiro emprestado, tem que pagar. Não tem nada ilegal com relação a isso. Não tem segredo, não tem nada ilegal.
Mas esse é um empréstimo de 2000...
Qual o problema?
Ele deveria ter uma prioridade, já que está há mais tempo rolando.
Ele deveria ter recebido antes, você quer dizer isso.
Por que o Bahia preferiu pegar empréstimo com a Postdata em vez de ir a um banco?
É uma suposição minha, mas certamente o Bahia foi ao banco e não tinha crédito. Como eu, em 2009 como presidente, fui ao banco e o banco não tinha crédito. O banco diz que não tem condições de lhe dar crédito. Se qualquer pessoa normal for tirar empréstimo no banco, o banco não vai emprestar a quem está devendo. Imagino que tenha sido isso. Não sei. Eu como presidente passei por essa dificuldade. De 2009 a 2010, até a gente ajustar as contas do clube, fomos ao banco e o banco não emprestava dinheiro.
Você nega, então, qualquer relação dessas empresas citadas com a sua família?
Evidentemente... A Consultiva, não. Mas dessas empresas aqui [Postdata], não há relação nenhuma com elas. E mais, o que é mais importante. Os contratos existem, o pagamento era devido e foi feito. O que é que há de ilegal nisso? Juros de mercado. Se tivesse aqui juros de 10% ao mês, 15% ao mês, coisas exorbitantes, absurdas, havia alguma coisa ilegal. Não há nada de ilegal em relação a isso.
Um trecho do relatório da Performance aponta que o Bahia fez frequentes pagamentos em dinheiro ou com cheques ao portador de valores relevantes. E não está explicitado a quem foi feito esse pagamento, quem são esses beneficiados. O que você tem a dizer sobre isso?
Duas coisas. Primeiro que o fato de pagar com cheque nominal ao portador ou em dinheiro, qualquer empresa do mundo faz isso. Se esse procedimento deve ser ou não corriqueiro, se a empresa de auditagem acha que deveria ser feito de outra forma, se ela acha que era preciso fazer de outra maneira, era mais seguro, era mais indicado, é uma outra coisa. Agora, ela tem que indicar se nesse pagamento que foi feito, nesses pagamentos, houve algum pagamento ilegal, se houve algum pagamento feito de maneira incorreta. É isso que eu quero saber. Uma coisa é dizer que não concorda, uma outra é levantar dúvidas. Eu afirmo com toda certeza, há lá no clube as notas fiscais, os devidos pagamentos, os recibos... Toda documentação financeira do clube está lá no clube.
Não há o devido registro na contabilidade. Foram encontradas também notas fiscais sem a descrição do serviço. Além de dois recibos de R$ 30 mil cada como adiantamento para terceiros sem constar quem são.
Bom, sem olhar especificamente qual foi o recibo, qual foi o pagamento, é impossível fazer esse questionamento a uma empresa que fatura R$ 50 milhões e da qual eu estou à frente há quatro anos. Não tenho como dizer aqui especificamente cada caso. Aliás, isso até me irrita, porque é preciso que haja uma acusação para que eu me defenda. É preciso dizer assim: esse recibo saiu para um pagamento dessa forma, esse pagamento foi feito de maneira errada, explique isso aqui. Para que eu possa explicar. É o que eu estou dizendo para vocês aqui, um procedimento, uma alegação de que um procedimento não deveria ser feito dessa forma, sim. Isso é ilegal? Está fora das leis? Das normas? Você pode achar... Eu poderia ter contratado uma outra empresa de auditoria que poderia dizer que, diante dessa situação, o melhor procedimento a se fazer era esse. É uma opinião da Performance de que não deveria ser feito assim. É um direito que ela tem. Agora, daí se alegar, se inferir ou deduzir que houve um desvio, houve um mau uso do dinheiro, vai uma distância realmente gigante.

E o cheque de R$ 32 mil para um motoboy?
É a mesma coisa. O motoboy que ele fala é do clube. Como é que acontece? É preciso fazer diversos pagamentos. Então o motoboy do clube, ninguém mais indicado do que ele, está ali para isso, pega o cheque, como acontece em qualquer empresa, vai ao banco, saca o dinheiro e paga. É o que deve ter acontecido com o cheque de R$ 32 mil e outros. É como acontece. Eu não consigo entender onde está a irregularidade nisso.
Como você explica a devolução de Sérgio Bezerra (conhecido como Kabrocha) dos valores de R$ 165 mil e R$ 87 mil nos dias 13 e 18 de abril, referentes à baixa parcial de empréstimo anteriormente concedida a Consultiva? Por que o Bahia pagou o imposto de renda dele, devolvido no mês seguinte? E hoje você e Kabrocha são brigados, o que ele fez?
Não. A primeira coisa é a seguinte, não sou brigado com ele. Não há nenhuma briga, há um afastamento. As pessoas se afastam. Não tem nenhuma briga. Tem um afastamento. Quem nunca se afastou de um amigo? Não tem nenhum problema... No caso do Bahia, o que eu imagino é que houve um encontro de contas do que ele emprestou ao clube e houve esse pagamento por conta desse recurso que entrou na conta do clube diretamente dele.
E onde a Consultiva entra nessa história?
Não sei. Tem que perguntar à Performance, porque não há nenhuma ligação entre ele e a Consultiva nessa situação. Tem que perguntar de onde a auditoria tirou essa informação.
Mas e o imposto de renda?
Imagino isso. Houve um aporte de recurso dele para o clube. É uma conta simples. Há a entrada de recurso e a saída. Amortização do empréstimo.
Por que o Bahia paga o imposto de renda de Kabrocha?
Volto a dizer a resposta anterior. Reconheço que isso não é o procedimento adequado. Daí a ser um procedimento ilegal é outra história. Reconheço que não é adequado. Agora, qual a explicação? Você faz um empréstimo, depois você tem um dinheiro a receber. Houve um abatimento no encontro de contas desse recurso no pagamento do imposto. Simples. Esse procedimento é adequado? Não. Esse procedimento deveria ter sido feito? Não. Mas daí a ser um procedimento ilegal há uma distância.
Mas não foi uma amortização, porque o mesmo dinheiro de Kabrocha foi devolvido ao clube. Ele depositou o mesmo valor...
Eu não tenho essa informação. Esse ponto especificamente eu não posso responder. É como eu falei desde o começo. É preciso pegar ponto a ponto e olhar qual é a acusação. É preciso pegar a memória de cálculo disso tudo para eu poder responder. Do que eu li no jornal, é isso.
E em relação à Cidade Tricolor?
Essa aqui é a ata da assembleia de sócios que aprovou a troca, permuta. A palavra certa não é permuta. O negócio foi feito entre a OAS e o Bahia. A ata da assembleia de sócios fala dos R$ 18 milhões que seriam correspondentes à construção e avaliação que foi feita, que a auditoria achou de maneira correta a avaliação do terreno de R$ 14 milhões. Nós expusemos isso para o Conselho, expusemos isso para a assembleia na época. Vocês tiveram acesso a tudo isso na época. O terreno do Fazendão foi avaliado em R$ 14 milhões. A construção, a obra, em R$ 18 milhões. Nós teríamos que pagar esses R$ 4 milhões. Os conselheiros sabiam disso, os sócios também, como está aí na ata. Esses R$ 4 milhões serão pagos à OAS e à Odebrecht. Eles são os donos da Arena Fonte Nova. Nós tínhamos esse débito com a construtora, por conta da construção do CT, a Cidade Tricolor. Um investimento que a gente achava que valia a pena. A gente tinha que fazer esse esforço para ter um dos melhores CT’s do Brasil. Como está lá, pronto, entregue, bonitinho e precisa ser utilizado.
Esses R$ 4 milhões, evidentemente, o Bahia tem dificuldade para pagar. Até se fosse R$ 1 milhão, R$ 500 mil, o Bahia teria dificuldade. A OAS, em determinado momento, nos propôs que, como ela também é sócia da Fonte Nova junto com a Odebrecht, que ela se acertasse internamente com a Arena Fonte Nova e recebesse esse recurso direto da Arena Fonte Nova, dentro do recurso que o Bahia tem a receber do contrato que temos com a Fonte Nova. Foi isso o que foi feito, sem problema nenhum, nós assinamos. Essa parte da auditoria está absolutamente correta. O valor não era mais de R$ 4 milhões. Acho que o valor está um pouco mais de R$ 4 milhões, porque o índice de correção... Todo mundo aqui já deve ter comprado apartamento. Depois que passa um tempo, corrige, etc e tal. Sem problema nenhum, foi dessa forma que foi feita. O restante, essa outra parte aí, não sei como a auditoria achou isso. O contrato está lá dentro do clube, assinado pela OAS, pelo Bahia, com as atas assinadas, da assembleia, do Conselho. Aí, quem precisa responder da publicidade é quem está lá.
Existem Transcons envolvidos na negociação?
O que pode haver é o Transcon utilizado, mas eu preciso também pegar esses contratos... Pode ser que haja alguma coisa de Transcon no terreno. Quando o Bahia recebesse o Transcon. Isso é preciso que se pegue o contrato que está lá. É só pegar e dar publicidade. O que está lá foi assinado, acordado, entre o Bahia, os sócios, o Conselho Deliberativo, etc. Especificamente quanto aos R$ 18 e R$ 14 milhões, eu tenho a ata que está certo, sem nenhum tipo de problema.
Não é um negócio no qual o Bahia sai perdendo?
De forma nenhuma. Vocês viram o CT como está sendo feito. Aliás, que está sendo feito não, o CT está entregue lá, pronto. Onde o Bahia está ganhando? Um CT pronto daquele, onde é que o Bahia está ganhando? A questão, no meu ponto de vista, desde o primeiro momento, nunca foi financeira. Pelo contrário, é estrutural, o futuro do clube. Vou dar uma de repórter e fazer a pergunta a você: se o Bahia não tivesse CT, e em determinado tempo lá atrás não teve, não ia ter nada para trocar. O Bahia teve que tirar do bolso e construir um CT. Você acha que em determinado momento jogou o dinheiro fora?

O mercado diz que o Fazendão vale R$ 14 milhões e a Cidade Tricolor vale R$ 8 milhões. Vale pagar esses R$ 20 milhões do novo CT?
Você está falando do terreno. Vale até mais. No meu ponto de vida vista, vale até mais. Estamos investindo no futuro do clube. Todos vocês já escreveram, e eu já ouvi da torcida, que um clube sem estrutura não vai à frente, que precisa de estrutura para poder trabalhar. Quando cheguei no Fazendão, eu canso de dizer isso, não tinha academia, não tinha fisioterapia, não tinha fisiologia, tinha esgoto passando a céu aberto, que nós tapamos. Demos dignidade ao CT, uma sala de imprensa para vocês trabalharem. Se o Bahia não tivesse o CT, não tivesse investido no Fazendão, eu, como qualquer outro dirigente, estaria sendo criticado porque o Bahia não tinha estrutura, não tinha campo para treinar, os jogadores iam reclamar, etc e tal. No meu ponto de vista, vale a pena e é uma questão subjetiva. Você pode achar que não vale, não tem problema nenhum. No CT, temos tudo que temos no Fazendão e mais ainda. Quatro campos prontos. No Fazendão, vocês sabem que temos praticamente um que, aliás, fui eu que construí, pois quando cheguei lá não tinha. Nós tínhamos aquele campo meia boca. No CT novo, temos quatro campos. Cada um daqueles custou quase R$ 1 milhão.
Você fez o campo número 2 no Fazendão e não deu manutenção, pois está horrível.
É verdade, mas assim... É verdade o que você está dizendo, mas, comparando um com o outro, estão lá os quatro. Lá tem banheiras, equipamento isocinético, salas para equipamentos, hotelaria, tudo o que não tem no Fazendão. No meu ponto de vista, vale a pena sem dúvida nenhuma. Só espero que as pessoas que estão à frente do clube hoje não tenham uma postura raivosa, não tenham uma postura que deponha contra o clube e queiram desmerecer um equipamento que está pronto para ser utilizado. O Bahia precisa mudar para lá, porque isso vai ser bom pro clube. Não importa se fui eu que fiz, se fui eu que não fiz.
A lista de funcionários revelou que duas irmãs suas trabalharam no clube. O ex-vice-presidente jurídico do Bahia, Ademir Ismerim, disse que não conhecia uma delas. O que você tem a dizer sobre isso?
Existem, no departamento jurídico, duas irmãs minhas, que são advogadas do clube. Recebiam a remuneração dentro do que o mercado paga. Uma recebia R$ 15 mil bruto e era coordenadora, que tratava com Ismerim, e outra recebia R$ 8 mil. Aliás, eu me arrependo. Devia ter pagado R$ 30 mil. Os interventores recebiam R$ 60 mil, como recebia Rátis pra esse trabalho. Estou pagando muito menos do que o mercado pagava.
Todas as duas trabalhavam no clube, sem nenhum problema. Davam o seu horário de trabalho normal no clube, assim como o advogado Raimundo, o doutor Igor, a doutora Laila, que eram também pessoas com quem Ismerim não tinha o contato diário. Tenho absoluta convicção de que Ismerim respondeu àquela pergunta de maneira honesta. Muito mais do que ele ir ao clube, a Luciana, que é a coordenadora do departamento, tratava com ele das coisas. Eventualmente ia no seu escritório, tratava dos assuntos, etc e tal. As duas iam lá normalmente, trabalhavam lá. É só perguntar a quem trabalhava no Fazendão.
Ismerim também não conhecia o doutor Raimundo, porque fazia um trabalho atrás da carteira. Ismerim, como outros vice-presidentes, têm a sua atividade. Ele não dava suas oito horas diárias de trabalho dentro do Esporte Clube Bahia. É natural, pois a sua atividade estava fora do clube. Haveria uma surpresa se ele trabalhasse todos os dias no clube e falasse que não conhecia a Renata. O departamento jurídico, fisicamente, não fica no Mundo Plaza. Ficava lá no Fazendão.
Mas, mais do que uma questão meramente administrativa, você não acha que contratar duas irmãs suas pra trabalhar no clube é uma questão antiética?
Eu posso aceitar o argumento, mas me prendo no seguinte: quero que me apontem no estatuto onde é que está a ilegalidade disso. Se o estatuto me proibisse de fazer isso, eu não faria. Alguém viu isso no estatuto isso? A matéria novamente fala isso, do jornal A Tarde, mentindo, de novo, por diversas vezes, que o estatuto proibia. Alguém achou no estatuto alguma proibição? Não há. Eu aceito o argumento que seja moralmente questionável. Como hoje, por exemplo, estou ouvindo falar, já li, que o cunhado de Rátis vai ser o diretor de negócios do clube. Faço o mesmo questionamento.
Aprofundando um pouquinho nessa questão do estatuto, ele veda vice-presidentes serem remunerados e outras questões do quadro de funcionários, como Eliseu Godoy ainda como funcionário, Ruy Accioly sendo presidente do Conselho e sendo listado como superintendente. Algumas questões específicas.
No caso dos vice-presidentes, antes de eles assumirem a vice-presidência, eram diretores do clube. Bom, a esse questionamento, tudo bem, aceito também o questionamento. Não vejo irregularidade para justificar minha saída do clube por causa disso. No caso especifico de Ruy Accioly, quando eu assumi o Bahia, como outros diretores, ele já era remunerado como diretor-superintendente do clube desde muito tempo atrás, desde quando o Bahia era controlado pelo banco Opportunity. Então, ele tornou-se presidente do conselho do clube depois de já estar exercendo o cargo de superintendente do clube, muito antes da minha administração. Também cai no mesmo caso de Sacha e outros vice-presidentes: já eram, depois acumularam o cargo. No meu ponto de vista, sem problema, mas aceito o questionamento.
E a questão de Eliseu ainda estar na folha de pagamento do Bahia?
Ele trabalhou no clube durante muito tempo, ajudava...
Mas saiu antes de Angioni chegar.
É, ele saiu do cargo específico de diretor. Ajudava o clube, talvez não desse a carga horária que devesse dar, mas trabalhava no clube, ia lá, nos assessorava, nos reuníamos semanalmente. Não vejo nenhuma ilegalidade nisso, mas é uma questão subjetiva.

funcionários do clube (Foto: Felipe Oliveira / EC Bahia)
Marcelo, qual era a função de Cristóvão da Bamor no Bahia e mais dois membros da organizada?
Esses dois entraram há pouco tempo, três meses. Cristóvão, quando ele nos procurou... Aliás, eu sempre me dei muito bem com Cristóvão, a gente sempre teve uma ótima relação. E quando ele nos procurou e conversamos sobre essa possibilidade de ele trabalhar no clube, ele já não fazia mais parte dos quadros da Bamor. Foi, inclusive, uma exigência nossa, mas que nem precisava ser feita já que ele não era mais pertencente aos quadros da Bamor, e a nossa ideia era fazer uma interação com a torcida, coisa que ele realmente fazia. Ele era, lá quando era diretor da Bamor, diretor de relações públicas. Eu não vejo nada de anormal.
Mas ele é formado em Jornalismo ou Relações Públicas para fazer essa função?
Não sei. Sei que ele fazia essa função.
Mas não é estranho contratar uma pessoa que você sabe que talvez não tenha conhecimento para fazer tal função?
Mas a minha ideia, a nossa ideia, era alguém que fizesse o link com as torcidas. Pode-se fazer todo tipo de crítica à torcida organizada, mas há uma relação.
Ele era a pessoa que fazia o relacionamento do Bahia com as torcidas?
Isso, exatamente, relacionamento com a torcida. Pode-se fazer qualquer tipo de questionamento com relação às torcidas organizadas do Bahia, Vitória, Flamengo, etc. e tal, mas o fato é que elas existem e que elas se relacionam com o clube. Como é que eu, presidente do Bahia, não vou atender um presidente da Bamor ou da Povão ou da Fiel? Como é que Alexi Portela não vai falar com os presidentes das torcidas organizadas do Vitória, como é que o presidente do Flamengo ou do Corinthians não vão falar? Tem que ter uma relação, acho natural, e foi nesse sentido que ele foi contratado, para trabalhar com a gente.
Você acha que ele era a pessoa adequada para fazer isso?
Exatamente, junto com a assessoria de imprensa e todo corpo que fazia essa parte de comunicação. Não há departamentos estanques no clube. Ele fazia, como outras pessoas faziam também.
A auditoria aponta que 60% dos ingressos a mais que o Bahia retirava eram doados para a torcida, certamente as organizadas, apesar de isso não estar especificado. Você acha certa essa relação de dar ingresso à torcida organizada? Qual seu interesse com isso? E, segundo a auditoria, durante os últimos meses, o Bahia teve um extra de mais de R$ 1,2 milhão em ingressos comprados e que não poderiam ser vendidos. Ou seja, esse valor foi gasto pelo Bahia para distribuir bilhetes.
Para deixar claro, essa prática também aconteceu durante a intervenção. O Rátis também deu ingressos durante o período em que ele esteve à frente do clube. O que acontece é o seguinte: o Bahia tem contratos com seus parceiros e, por esses contratos, o Bahia tem obrigação de ceder ingressos de relacionamento. Além disso, o Bahia, evidentemente, faz o seu relacionamento como qualquer empresa precisa fazer. Para isso, a gente pegava ingressos, e a Arena depois descontava da gente sem nenhum problema. O que eu imagino que a auditoria pegou de maior foi a quantidade de ingressos no Ba-Vi. Aí não precisa nem explicar. A Bahia inteira queria ir para o Ba-Vi, inauguração da Fonte Nova, o estádio mais bonito do Nordeste, toda uma atenção... Então, evidentemente, nesse dia específico houve uma demanda maior.
Mas, na verdade, o que chamou a atenção não foi o Ba-Vi. Foi o jogo contra a Luverdense, em que mal houve público e teve 890 ingressos extras.
Só da Petrobras são mil ingressos. Mesmo que ela não pegue, está lá no borderô. E o Bahia tem que pagar. Então, assim, está no contrato, está explicado. O que o Bahia pegou a mais, pagou. O que a gente tem que ceder por contrato, a gente cede. O excesso foi no Ba-Vi por ter sido o Ba-Vi, a inauguração, e o que se pegou a mais, o Bahia, pelo contrato com a Arena, pegou, descontou-se e foi para fazer relacionamento como qualquer empresa. Não há nada de anormal.
Autor: ,postado em 15/09/2013
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