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João Paulo: 'Uso da base precisa ser filosofia do clube, não de um treinado


João Paulo: 'Uso da base precisa ser filosofia do clube, não de um treinado

Novo coordenador de futebol dos profissionais do Vitória, João Paulo Sampaio é também uma cria do clube. De seus 37 anos de vida, passou os últimos 23 dentro dos muros do Barradão. Foi jogador, técnico das categorias de base e coordenador da base, cargo que exercia desde 2006 e deixou ao aceitar o convite para a nova função nesta terça-feira.

Conviveu com praticamente todos os personagens marcantes do clube nesse tempo, entre eles Hulk e David Luiz, sobre quem conta boas histórias. Simples e sem rodeios ele também conta como adquiriu a fama de ‘brigão’ na base brasileira, por não ter medo de entrar em polêmicas, e diz que irá manter o estilo nos profissionais. ‘Meu negócio é falar a verdade, sem omissão. E lutar pelo que eu acho que é certo’,  diz. Confira a entrevista:

GloboEsporte.com: Você estava na base do Vitória já há algum tempo. Como surgiu esse convite para os profissionais?

João Paulo Sampaio: É uma ideia que já vinha sendo cogitada há dois anos. Cheguei a receber propostas para sair do Vitória, mas o presidente anterior, Alexi Portela, acenava com essa possibilidade e custeou alguns cursos de qualificação para mim, como um MBA em gestão esportiva, e viagens pela Europa para conhecer outras estruturas. Na base, se encerra um ciclo vencedor no qual além de ganhar títulos, pude ver o surgimento de vários jogadores, como Hulk, David Luiz, Wallace, Elkeson e outros.

Como você pretende contribuir para uma integração maior entre base e profissionais dentro do Vitória?

Essa vai ser uma das minhas funções. O aproveitamento da base é algo que precisa ser uma filosofia do clube, e não depender excessivamente da vontade do técnico dos profissionais de trabalhar com a molecada. Aqui no Vitória temos uma cultura de formar vários jogadores e precisamos incentivá-la sempre.

Nesse sentido, a relação com o Ney Franco é tranquila?

É ótima, e já era excelente antes dele chegar ao Vitória. Ele, o Carpegiani e o Antônio Lopes foram os técnicos que tiveram mais diálogo com a base no período em que fui coordenador. O Ney, por todo o passado dele como treinador de base no Cruzeiro e na Seleção, entende como funciona o processo de formação de jogador e não tem medo de colocar os meninos em campo, como vem fazendo com o Marcelo, o José Welison, o Matheus Salustiano e outros.

Como será a dobradinha com o Felipe Ximenes, executivo de futebol do Vitória?

Um dos motivos de eu ter ido para os profissionais foi ter conversado com ele nessas duas últimas semanas e percebido que temos muita afinidade. É um profissional sério, perspicaz, e tenho muito a aprender com ele, assim como ele comigo. Acho que faremos uma boa dupla, estou otimista.

Na base, algumas pessoas falavam muito do seu jeito brigão, de não ter medo de enfrentar ninguém numa discussão. Vai manter o estilo nos profissionais?

Sim, vou. É claro que há diferenças no tratamento com garotos e adultos, mas o meu jeito não vai mudar nunca. Sempre vou falar a verdade, foi assim que cheguei aos profissionais e aqui não vai ser diferente.

Você foi técnico do Hulk na base, e chegou a discutir feio com ele uma vez. Como foi esse episódio?

O Hulk já prendia muito a bola naquela época (risos). Eu reclamei com ele, que abriu os braços e falou: ‘Deixa eu jogar, professor!’. Quando chegamos no vestiário, eu já entrei com o pé na porta, fui em direção a ele e o puxei pelo colarinho, dizendo ‘Nunca mais abra os braços pra mim! Braços abertos, só Jesus Cristo no Rio de Janeiro!’. Ele começou a chorar, e depois, de cabeça fria, eu pensei que se um cara daquele tamanho me desse um murro, eu teria problemas (risos). Hoje a gente da risada disso, somos muito amigos. Fui a Lisboa há alguns anos e ele mandou um carro me pegar para me levar até o Porto, quando ele jogava lá. Ele sabe que as atitudes que eu tomei foram para que o crescimento do homem acompanhasse a evolução do atleta, e tem muito carinho pelo Vitória, e por mim.

E com o David Luiz? Houve algum episódio marcante?

O David Luiz estava para ser dispensado, viajamos com o time sub-18 para a Copa Santiago, no Rio Grande do Sul, e eu estava com o atestado liberatório dele na mão. Foram 78 horas de ônibus, e o time não aguentou no segundo tempo. Vencíamos por 1 a 0 e eu não tinha ninguém para colocar como líbero, na época jogava no 3-5-2.  O David entrou como líbero no lugar de um jogador com cãibra e não saiu nunca mais. Em seis meses, ele foi para os profissionais, e um ano depois, foi vendido para o Benfica.  O Wallace é outro jogador que mudou de posição, era meia na base.

Recentemente, dirigentes com ligação com a base dos clubes têm assumido funções nos profissionais com frequência, como o Jorge Macedo, do Inter, o Mário André Mazzuco, do Coritiba, e o Sidney Loureiro, do Botafogo. Como você analisa essa ‘nova geração’ de executivos nos clubes?

Creio que a tendência é que esse número aumente nos próximos anos. Nossa geração conseguiu moralizar o mercado da base (com o pacto entre os clubes que prevê boicote a quem contratar jogadores sem o consentimento do clube anterior do atleta) e mostrou conhecimento técnico. Somos profissionais que nos preparamos para isso, não caímos de paraquedas e esperamos contribuir para a melhoria do futebol brasileiro.

Algumas pessoas costumam falar que nos profissionais, há menos problemas a serem resolvido do que na base. Mas os erros são muito mais vistos. Você concorda com esse pensamento?

Sim. Um erro nos profissionais onera muito mais o clube, pois o salário do jogador contratado é maior. Na base, há a possibilidade de trazer jogadores para testes, o que não acontece no time de cima. E o que eu posso dizer nesse sentido é que no futebol, errar é inevitável, mas é importante trabalhar para minimizar esses erros. Temos que conhecer o clube onde trabalhamos e a maneira que a torcida quer que o time jogue.

Autor: ,postado em 25/04/2014


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