De capacete para proteger coágulo no cérebro, Jeremy evita o bi de Medina

Nascido e criado nas ondas pesadas da Ilha Reunião, na África, Jeremy Flores provou todo o seu talento e potencial ao surfar com perfeição os tubos perigosos de Teahupoo, no Taiti. De capacete para proteger o coágulo no cérebro e ainda em recuperação das duas fraturas na face, o francês reinou na mais temida bancada do mundo em um dia de condições difíceis. O Pipe Master abriu a final contra o brasileiro Gabriel Medina, campeão no ano passado, com um tubaço que lhe rendeu nota 9.87 e escolheu apenas mais uma onda para somar 16.87 e desbancar o atual campeão mundial, que perdeu a chance de conquistar o bicampeonato e tornar-se o primeiro da história a conquistar o feito. O resultado fez Gabriel pular da 15ª para a 10ª posição no ranking e renovou as esperanças, ainda remotas, de defender o título mundial.
- Ele ficou perto de mim a bateria inteira, isso me dificultou um pouco. Felizmente consegui achar uma boa onda no início e sair com a vitória. Gabriel é um surfista fantástico e está de parabéns pelo que fez aqui. Fui muito seletivo nessa final, esperei pelas melhores ondas e acabei sendo feliz - disse Jeremy Flores em uma entrevista à Liga Mundial de Surfe (WSL).
Com o fim da sétima etapa do Circuito Mundial, Adriano de Souza, o Mineirinho, mesmo sendo eliminado precocemente na terceira fase no Taiti, se manteve na liderança do ranking mundial. Owen Wright, superado por Medina na semifinal, poderia assumir o posto de número um caso fosse à decisão. No entanto, não cumpriu a missão e passou a ocupar a terceira posição. Mick Fanning e Julian Wilson também caíram antes do esperado e não ameaçaram Mineirinho. Outro que poderia roubar o lugar do paulista do Guarujá, Filipe Toledo, viu escapar a chance depois de ser "goleado" por 15,00 a 00,00 por Italo Ferreira na repescagem (quinta fase). O melhor estreante da temporada caiu diante de Owen nas quartas. Wiggolly Dantas e Bruno Santos, campeão do evento em 2008 e convidado neste ano, se despediram na quinta fase.

Em junho deste ano, o francês sofreu uma grave lesão na cabeça ao surfar em Lakey Peak, pico remoto da Indonésia. O surfista perdeu a memória por alguns instantes e esperou 24h pelo resgate. Ele foi transferido de helicóptero para um hospital em Bali e passou por duas cirurgias, mas não teve sequelas. Foi obrigado a abdicar da última etapa, em Jeffreys Bay, na África do Sul, mas fez de tudo para voltar o quanto antes ao mar. O médico o liberou com uma exigência: não cair, uma tarefa complicada. Foram algumas quedas, mas nada que o impedisse de seguir em frente e realizar uma campanha impecável na Polinésia Francesa. A última vez que Flores havia disputado uma final no "Circuito dos Sonhos" foi em 2010, quando derrotou Kieren Perrow, hoje comissário da WSL, na final do Pipeline Masters, no Havaí.
O brasileiro e o francês haviam se enfrentado apenas uma vez, em Hossegor, na França, 2013, com vitória para Medina, que sagrou-se vice-campeão na época. Os dois surfistas começaram a disputa colados à espera da série, procurando uma melhor posição para a primeira onda. Após quatro minutos, Medina resolveu arriscar, mas não encontrou uma saída. Jeremy veio em seguida, pegou um tubaço e, mesmo espremido pelo paredão de água, saiu com estilo e cerrou o punho para comemorar. Os juízes gostaram e deram a ele nota 9.87 (dois dos cinco juízes deram 10). Com 0.70, o local de Maresias precisava de 9.38 para virar e recuperar a ponta. Com a prioridade, esperou pacientemente, mas as boas ondas não apareciam no horizonte o mar.
A 13 minutos do fim, resolveu entrar em uma pequena, mas não evitou a vaca. O francês surfou mais uma, ganhou 7.00 e chegou a 16.87 e o deixou em combinação. Com técnicas distintas, os surfistas pegaram ondas similares na sequência. O pai, Charles Saldanha, observava o filho no canal e torcia por uma reviravolta. Não demorou para Medina reagir. O paulista desapareceu em um tubo, ganhou 7.17 e saiu da situação complicada. Conhecido pela frieza e capacidade de se reinventar nos momentos mais difíceis, ele não desistiu. Com um 6.03, melhorou o somatório (13.20) e lutou em busca do 9.71. Sem a prioridade, se afastou de Flores para ficar com o caminho livre nos instantes finais, mas já era tarde. O vento e as poucas ondas eram um obstáculo rumo ao bi. E foi apenas uma questão de tempo para o francês selar a vitória e conquistar a sua segunda etapa no Tour.
No ano passado, Medina deu show em um mar épico na Polinésia Francesa para vencer o onze vezes campeão mundial por 18,96 a 18,93, uma diferença de apenas três centésimos. O evento em 2014 entrou para a história como um dos campeonatos com os tubos mais espetaculares de todos os tempos, com ondas perfeitas de até 4m (veja acima o vídeo). A vitória do brasileiro sobre Kelly Slater em uma final eletrizante colocou o surfe nacional em outro patamar e deixou o fenômeno de Maresias ainda mais perto do sonhado título mundial.
O próximo compromisso dos tops da elite será em Lower Trestles, na Califórnia, a oitava de 11 etapas, de 9 a 20 de setembro. No ano passado, o sul-africano Jordy Smith sagrou-se campeão.
FINAL EM TEAHUPOO
1. Jeremy Flores (FRA) 16.87 x Gabriel Medina (BRA) 13.20
BATERIAS DA SEMIFINAL
1. Gabriel Medina (BRA) 16.63 x Owen Wright (AUS) 8.70
2. Jeremy Flores (FRA) 15.86 x C.J.Hobgood (EUA) 8.93
BATERIAS DE QUARTAS DE FINAL
1. Owen Wright (AUS) 16.93 x Italo Ferreira (BRA) 15.94
2. Gabriel Medina (BRA) 15.67 x Kai Otton (AUS) 11.00
3. Josh Kerr (AUS) 11.16 x C.J. Hobgood (EUA) 12.90
4. Kelly Slater (EUA) 15.66 x Jeremy Flores (FRA) 16.83
QUINTA FASE NO TAITI
1. Filipe Toledo (BRA) 0,00 x Italo Ferreira (BRA) 15,00
2. Bruno Santos (BRA) 11,76 x Kai Otton (AUS) 13,50
3. Aritz Aranburu (ESP) 14,00 x C.J. Hobgood (EUA) 14,36
4. Jeremy Flores (FRA) 13.37 x Wiggolly Dantas (BRA) 13.23
Autor: ,postado em 26/08/2015
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