Parece estranho, mas o caminho para uma medalha de ouro pode estar em uma sequência de sétimos lugares. Pelo menos na classe laser da vela, onde Robert Scheidt vai tentar um inédito tricampeonato olímpico. Ele aposta na regularidade nas 11 regatas previstas para chegar à sexta medalha seguida nos Jogos, feito que só o esgrimista húngaro Aladar Gerevich alcançou, entre 1932 e 1960.
- O sétimo lugar no laser é uma posição que no último evento-teste daria a primeira colocação. Parece fácil no papel, mas é muito difícil manter uma posição dessas em uma flotilha de nível como a Olimpíada. Quem errar menos vai levar - disse nesta quinta-feira, em entrevista na Escola de Educação Física no Exército, na Urca, onde a delegação da vela e de outros esportes está concentrada.

Estão previstas 11 regatas para a classe laser a partir do dia 8 de agosto. Para chegar com chance de medalha no fim os dois primeiros dias são fundamentais.
- Vão ser importantíssimos porque se você mantiver uma média boa ganha confiança e começa a crescer. Um bom início é fundamental para dar uma sequência. Se você começa com os resultados ruins já fica com as costas um pouco contra a parede, sem chance de errar, senão escapa qualquer chance de medalha. Tentar começar sem arriscar demais e crescendo ao longo da competição - disse.
Quem deve ser o porta-bandeira do Brasil na abertura da Olimpíada? Scheidt é um dos candidatos. Participe.
Uma boa largada é fundamental. Trata-se de um momento crítico, quando os competidores se espremem na linha imaginária formada por dois barcos, disputando o lugar com as melhores condições, sem poder queimar a largada e se chocar contra o adversário.
- Ficar entre os 10 não é fácil em uma flotilha com 46 velejadores, com um nível muito elevado. É tentar fazer uma boa largada, mas não ir com muita sede ao pote. Você tem uma chance de errar feio, para descartar. A largada é mais importante. É uma linha pequena com pouco espaço. Muitos caras vão brigar pelo melhor espaço para largar. E o momento da aceleração final para a largada. É uma linha imaginária, o barco não tem breque.

Aos 43 anos, Scheidt chega à sua primeira Olimpíada sem ser favorito. Para ele, este papel é desempenhado pelo britânico e atual bicampeão mundial Nick Thompson, a quem venceu no Campeonato Brasileiro deste ano, e o australiano Tom Burton. A história da laser na Olimpíada, porém, mostra que velejadores estreantes em Jogos não alcançam o ouro, mesmo vindo de títulos de expressão, como Thompson. Experiência conta muito, sim.
- Não posso falar por eles. O domínio que eu tinha antes eu não tenho mais. Mas a experiência conta muito nesse esporte, por velejar aqui e ter passado por cinco Olimpíadas. Acredito que o britânico é o favorito por ser o atual bicampeão mundial, e vem velejando muito bem. Esse ano foi o mais constante da laser, mas o jogo tem que ser jogado na hora. Talvez seja a primeira Olimpíada em que eu não chego como favorito. Mas isso não me tira nenhuma possibilidade.
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Com uma medalha na Rio 2016, Scheidt vai desempatar no número de medalhas com o coordenador técnico da equipe brasileira de vela e seu ídolo, Torben Grael. E vai se juntar ao esgrimista húngaro. Não importa a cor da medalha. Um pódio é o seu objetivo para acabar de escrever sua história olímpica.
- Tem números que podem ser atingidos, mas eu não penso no meu passado, no que eu fiz, Minha cabeça está nessa Olimpíada. Se eu conseguir qualquer medalha eu alcanço meu objetivo aqui. A medalha depende da regularidade, da diversidade das raias, protestos com outros barcos, da largada escapada,a penalização da bandeira amarela pelo júri. Várias coisas que podem acontecer. É difícil controlar todas essas. O que pode se fazer é treinar bem, e isso eu fiz.