A onda de violência que atingiu o Espirito Santo na última semana está impactando a rotina dos capixabas, inclusive dos atletas do estado. Sem a Polícia Militar nas ruas, os esportistas viram seu treinamento ser prejudicado. Ora falta segurança para sair de casa, ora falta alimentação adequada, ora falta concentração no treino. Afinal, como tirar da cabeça o caos instalado no estado? O GloboEsporte.com ouviu alguns atletas afetados pela crise no Espírito Santo.
A situação de violência no Espírito Santo está no oitavo dia. Familiares de PMs pedem reajuste salarial e protestam impedindo o policiamento nas ruas do estado. Na noite da sexta-feira, o Governo e os PMs entraram em acordo para retomar as atividades neste sábado, mas os familiares dos PMs mantiveram os protestos.
“ESTAMOS VIVENDO UMA GUERRA CIVIL”
O judoca Nacif Elias hoje defende o Líbano, mas é capixaba de coração, mora em Vitória e treina em Vila Velha. O atleta olímpico, porém, viu o terraço da sua casa virar a única área disponível para treinar com segurança. Às vésperas da estreia na temporada no Grand Slam de Paris, ele se sentiu preso pelo medo.
- Eu fui bastante prejudicado, desde a minha parte física até meu treinamento técnico. Fiquei uma semana sem treinar a parte física. Treinava no terraço da minha casa. Fiquei seis dias sem poder ir à rua correr, porque não havia ninguém na rua, com risco de ser assaltado ou até mesmo de ser executado, porque eu corro de capa para perder peso, podiam me confundir com um assaltante. Estamos vivendo uma guerra civil. Terra sem lei. Estavam invadindo casa e assaltando tudo. Fiquei sem treinar. Consegui manter a parte física porque tenho uma mini academia em casa. Não tinha nem sparring disponível. Estava impossível circular - contou Nacif.
Nacif Elias representa o Líbano, mas é capixaba de coração (Foto: Danilo Verpa/ Folha S.Paulo/ NOPP)
Até a alimentação do judoca foi impactada. Como a maior parte do comércio do estado fechou as portas, ele não conseguiu comprar suplementos e alimentos adequados para a dieta de um atleta.
- Afetou a minha dieta, porque faço uma alimentação balanceada, com produtos orgânicos, e não tinha uma feira aberta. Prejudicou bastante.
“PRESOS DENTRO DE CASA”
Mesmo atletas que não estão no Espírito Santo sentem o impacto da onda de violência. Medalha de prata na Olimpíada de Londres 2012, o boxeador Esquiva Falcão está em Las Vegas, nos Estados Unidos, se preparando para sua próxima luta, no dia 17 de fevereiro. Ele chegou a relatar uma invasão na sua casa em Vila Velha na quinta-feira, mas foi um engano. Ainda assim, se preocupa com os familiares que podem se tornar vítimas da crise no estado.
- Estou em Las Vegas treinando para a minha luta, mas minha família está no Espírito Santo. Tenho visto a situação, li notícias na internet, está muito complicada. As pessoas não conseguem sair de casa. Não dá para pagar uma conta no banco, não dá para ir ao mercado, não dá para botar gasolina no carro. Estamos vivendo presos dentro de casa, e ninguém resolveu nada ainda. Eu li sobre o acordo do governo e a PM, mas, as mulheres dos PMs falaram que vão continuar a greve. A situação está péssima. Ninguém consegue sair de casa pagar uma conta. O governo deveria cobrir os juros das contas atrasadas - lamentou Esquiva.
“NUNCA IMAGINEI COISA ASSIM”
A situação de Esquiva é bem parecida com a de Alexandra Nascimento. Eleita a melhor jogadora do mundo na temporada 2012 do handebol, a ponta mora e joga na Hungria, mas seu pensamento durante os treinos da semana estavam na família, que mora em Vila Velha.
- Minha família ficou dentro de casa até que as coisas se acalmassem. Eu acordava pensando nisso, ia para o treino e não via a hora de pegar o celular para falar com a minha mãe e escrever para ela. Seguia tudo pelas redes sociais. Tentava ficar tranquila para tranquilizar a minha mãe. É muito triste o que aconteceu. Nunca imaginei uma coisa assim, que isso poderia acontecer. Agradeço a Deus por não ter acontecido nada com minha família e peço a Deus para confortar as outras famílias - disse Alê.
Alexandra Nascimento está longe da crise, mas sua cabeça está nos familiares em Vila Velha (Foto: Wander Roberto/Photo&Grafia;