Etanol está custando os olhos da cara
O aumento constante do preço do etanol nos postos de combustíveis de Salvador pode provocar uma “situação dramática, desesperadora” na hora de abastecer o carro. O alerta é do presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicombustíveis-Ba), José Augusto Costa, que atribui a alta no valor do etanol aos usineiros, “que estão preferindo fazer açúcar da colheita da cana do que combustível. O preço vai continuar a subir e não temos nada a fazer”, afirmou.
Conforme José Augusto Costa, o fato da Bahia não ser um estado produtor de cana-de-açúcar, contribui também para o aumento do preço do combustível. “A alta do preço começa a partir do usineiro, que repassa para a distribuidora e esta eleva para os donos de postos, que não têm o que fazer. Já seguramos o máximo o valor do etanol, que a Bahia importa de São Paulo, Minas e Matogrosso do Sul e Norte”, observou.
A próxima safra de cana oriunda destes estados acontecerá a partir de 15 de abril e, ainda segundo o presidente do Sindicombustíveis-Ba, poderá chegar aos postos até final de maio. Até lá, o consumidor sentirá no bolso o peso do valor do combustível.
Outra safra que poderá amenizar a situação é esperada para os meses de setembro e outubro, produção da colheita dos estados de Alagoas, Sergipe e Pernambuco. A solução para a crise que ronda o abastecimento da frota baiana de carros movidos a etanol, na opinião de José Augusto Costa, deve partir do Governo Federal.
“É uma questão política. O governo terá que mexer na mistura, que hoje é de 75% de gasolina e 25% de álcool”, diz, acrescentando também temer a concorrência que vem do exterior: “A Shell internacional, que até o mês passado não podia abastecer seus postos com o combustível importado produzido do milho, agora está autorizada e já começa a buscar este equilíbrio na mistura”, observou.
Talvez já prevendo a disputa acirrada entre os postos, com a oferta de etanol da cana-de-açúcar e do milho no futuro, desde sexta-feira, 25, que está autorizado, por parte da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a adição de mais água ao álcool anidro que é misturado na gasolina comercializada em todo o Brasil. A medida vale até o dia 30 de abril. De acordo com a resolução, publicada no “Diário Oficial da União”, a quantidade de água presente no etanol anidro passa de 0,4% para até 1%. A gasolina vendida nos postos brasileiros é composta pela mistura de 25% de etanol anidro.
A ANP manterá a medida até o final da entressafra da cana-de-açúcar no Centro-Sul do país, período em que não são registradas altas no preço do combustível que é misturado à gasolina. Conforme levantamento da própria Agência, o preço médio da gasolina para o consumidor brasileiro passou de R$ 2,621 por litro, em 20 de fevereiro, para R$ 2, 652, no último sábado (19). No mesmo período o preço do etanol nas bombas dos postos de combustíveis subiu cerca de R$ 0,15 por litro, segundo dados da ANP..
Consumidor do flex prefere gasolina a etanol
“O etanol está caro!”, declarou o motoqueiro André Luiz Alves, 50, que parou para abastecer e depois seguir trabalhando. Antes, porém, desabafou mais um pouco. “Tem lugares que o etanol custa R$ 2, 59, enquanto que a gasolina você encontra até por R$ 2, 69, uma diferença pouca. Eu, às vezes, misturo com metade de cada, mas é bem melhor botar gasolina”.
O administrador Tiago da Costa, 29, dono de um carro flex, considera o etanol “absurdamente caro. E a tendência é aumentar. Diante desta situação o jeito é usar a gasolina.
O etanol fica em segundo plano pra mim”, disse, confirmando uma tendência dos consumidores de combustíveis que estão trocando o derivado da cana-de-açúcar pelo produto oriundo do petróleo, como alternativa para circular motorizado na cidade.
“O etanol aqui em Salvador está muito caro. No interior é mais barato. Em Feira de Santana, por exemplo, está mais em conta. Aqui cada posto aumenta de uma forma. Não há controle, fiscalização, aí vira um cartel e deixa a gente à mercê deles. É por isso que o consumidor paga um preço abusivo pelo combustível. Atualmente está valendo botar gasolina. Etanol só quando chegar a safra boa, lá pelos meses de junho e julho “, comentou o motorista Manoel Almeida Bonfim, 35, enquanto abastecia num dos postos da capital.
“Ultimamente o preço do etanol tem subido rapidamente, em pequenos intervalos de tempo. Está praticamente igual ao da gasolina. O meu carro é flex e antes era bem mais vantagem eu só abastecer com álcool, por causa do preço. O etanol realmente evapora mais rápido, mas agora vale pôr a gasolina porque é um combustível de consumo mais lento do que com o etanol”, enfatizou a enfermeira Claudia Reis dos Anjos, 29 que, ao volante, aguardava o frentista do posto, situado na Rua Djalma Dutra, concluir o abastecimento.
Autor postado em 29/03/2011
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