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Prodígio da ginástica, Rebeca evolui no solo com trilha sonora de Beyoncé


Prodígio da ginástica, Rebeca evolui no solo com trilha sonora de Beyoncé

Aquele tablado tem um quê de sagrado. É ali, a cada passada, que a infância de tanta dificuldade fica para trás. Sob os olhares de toda uma arena, Rebeca Andrade sente-se mais forte. Gosta de competir. E experimenta, a seu modo, a sensação de estar no palco, como a cantora de quem é fã. Beyoncé está nos pôsteres, nos desenhos, no guarda-roupa, no computador e no celular. Está pelos cantos da casa, nas músicas que cantarola com a anuência dos outros moradores. Não bastasse isso, faz parte de sua série de solo. 

A busca pela música ideal terminaria após uma conversa entre a coordenadora da seleção, Georgette Vidor, e a técnica Keli Kitaura. Era preciso encontrar algo que a motivasse, que a ajudasse a tirar o máximo de proveito do código de pontuação - o qual passou a exigir muito mais da parte artística -, e que mexesse com o público. 

- Ela canta Beyoncé o dia todo. É bem jeitosinha dançando e cantando (risos). Pediu que minha mãe fizesse um colant igual ao dela, para brincar. Sempre teve o sonho de conhecê-la. Então, a música tinha que ser dela (Single Ladies). Rebeca sabe dançar todas as coreografias e usa partes na série. O público também dança no ginásio e isso conta a favor dela, melhora a nota e ela se apresenta com mais vontade. A primeira vez que competiu com a trilha nova foi em maio. A anterior não era muito boa. A nota já aumentou muito com relação à anterior. Antes tirava 13,900 e agora 14,300, o que é muito bom - disse a treinadora. 

Rebeca Andrade ginástica Olímpica (Foto: Ricardo Bufolin / CBG)Rebeca defenderá o Brasil nos Jogos Olímpicos da Juventude (Foto: Ricardo Bufolin / CBG)

 

Aos 15 anos, Rebeca é tida como uma pérola pela Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). É vista como uma ginasta completa. Tem técnica, boa flexibilidade e potência. Aparece como uma esperança de medalhas nas Olimpíadas do Rio em 2016. O que poderia significar uma pressão é encarado como motivação. No mês que vem, fará um teste de fogo nos Jogos Olímpicos da Juventude, em Nanquim, de 16 a 28 de agosto. Os treinadores querem saber como se comportará em uma competição de alto nível e com ambiente similar ao que deverá encontrar daqui a dois anos.   

- Eu acho bom ouvir elogio. Isso vai te dando mais força, você pode fazer mais. Estou treinando muito, muito, muito e acho que vou me sair bem. Estou correndo atrás do meu sonho, lutando por ele. A Beyoncé correu atrás dos dela sem passar por cima de ninguém. É uma pessoa humilde e isso a fez ainda mais especial. Ela serve de espelho para mim. É uma das seis pessoas mais admiradas por todo mundo. Eu adorei poder tê-la na minha série. Queria ter ido ao show do Rock in Rio, mas estava competindo. No próximo espero estar lá. Acho que vou ficar paralisada.

Keli Kitaura e Rebeca Andrade Ginástica (Foto: Ricardo Bufolin / CBG)Keli Kitaura e Rebeca Andrade Ginástica (Foto: Ricardo Bufolin / CBG)

Rebeca tem jeito de menina, mas firmeza de gente grande. Quer um elemento com seu nome no código de pontuação do salto, assim como fizeram Daiane dos Santos (solo), Diego Hypolito (solo), Sergio Sasaki (barras paralelas) e Arthur Zanetti (argolas). Trabalha nele há algum tempo, mas só poderá apresentá-lo para ser avaliado num Mundial ou nas Olimpíadas. Quer uma medalha olímpica. Duas de preferência, no salto e no individual geral, e já em 2016. 

- Acho que meu sonho está pertinho, sim. Tenho que melhorar algumas coisas, fazer coisas novas nos aparelhos. Estou tentando controlar o peso, o que é uma tortura porque gosto de doces. Também procuro aprender com a experiência da Jade Barbosa, olho muito para a Mckayla Maroney  e Gabby Douglas. Estou procurando fazer tudo o que o Alexandrov (o russo Alexander Alexandrov, técnico da seleção brasileira que tem 15 medalhas olímpicas no currículo) fala para mim. Keli e Chico, meus técnicos no Flamengo, me falam que ele levou muitas meninas ao pódio nos Jogos. Quero ser uma dessas também. 

TRAJETÓRIA

Para isso, Rebeca saiu cedo do convívio da família. Mesmo que tudo parecesse conspirar contra, insistiu e contou com a generosidade de muita gente. A mãe não tinha tempo nem dinheiro sobrando para investir no sonho. Dona Rosa trabalhava como empregada doméstica para sustentar os oito filhos. Moravam numa casa muito humilde na periferia de Guarulhos, com apenas um cômodo onde todos dormiam, e banheiro do lado de fora.    

- Era muito difícil. Minha mãe não tinha dinheiro e eu faltava mais aos treinos do que ia. Ela ficava cansada de ir a pé e voltar do trabalho quando me dava o dinheiro para a passagem. Meu irmão então comprou uma bicicleta e me levava, mas às vezes ela quebrava. Ela pedia dinheiro emprestado para que não faltasse comida. E como não sobrava, não podíamos comprar outras coisas. Roupa eu ganhava das pessoas que me conheciam e doavam - relembrou.

Rebeca Andrade Ginástica (Foto: Arquivo Pessoal)Rebeca Andrade ainda criança com a técnica Keli Kitaura (Foto: Arquivo Pessoal)

O café da manhã que sobrava no ginásio da prefeitura tinha endereço certo. Mas a frequência ainda era muito baixa. Keli Kitaura via naquela menina de 6 anos um potencial bom demais para ser desperdiçado. Fez então uma proposta para Rosa. Ficaria com Rebeca em casa nos fins de semana. Só assim saberia que ela estaria ginásio no dia seguinte. Morou um tempo com uma tia, depois com a coordenadora de ginástica. Foi assim durante três anos. A técnica seguiu para a Curitiba fazendo uma promessa: voltariam a trabalhar juntas.

- Assim que consegui uma boa estrutura a levei para lá. As pessoas criticaram a mãe e a nós por termos tirado uma criança tão cedo de casa (tinha 8 anos na época). Resolvemos investir no potencial dela, no sonho dela. Tivemos que brigar com Deus e o mundo. Depois fomos contratados pelo Flamengo e ela veio junto. Hoje ela e mais nove meninas da equipe moram comigo e meu marido Francisco Porath numa casa em Três Rios. Nós ainda não temos filhos, mas sou técnica e "mãe", numa fase complicada de adolescência.

Não só na mudança do comportamento. As alterações hormonais e no centro de gravidade do corpo viram uma preocupação no caso de atletas. Ficar de olho vivo na balança passa a ser ainda mais imperativo. 

-  Ela teve muito problema de peso ano passado. Agora está estabilizando. Mudou muito o corpo. Come muito por ter passado dificuldade. Mas está se controlando melhor, cuidando da alimentação. O peso ainda varia muito, mas ela passou fase mais difícil. Rebeca gosta de competir, só que não muito de treinar. Quer sempre ganhar. A gente tenta colocar na cabeça dela que os treinos são mais importantes do que a competição.  A chance de medalha dela é em 2016. Ginástica é precoce. Tem que dar o máximo agora porque depois são mais quatro anos. Está sendo treinada para o individual geral, salto e também solo.

Rebeca Andrade ginástica Olímpica (Foto: Ricardo Bufolin / CBG)Rebeca sonha com elemento com seu nome na prova de salto (Foto: Ricardo Bufolin / CBG)

 

Rebeca não reclama. Fala dos dois com carinho e respeito. Mesmo que só reencontre os parentes uma vez por ano e que amenize a distância com telefonemas, não pensa duas vezes ao responder que tudo tem valido a pena. A dedicação já rendeu um contrato com uma empresa de telecomunicações, salário do Bolsa Atleta, do Flamengo e da seleção. A família mora agora num local melhor. 

- Agora posso ajudar em casa, e minha mãe não tem mais dívidas. Estou muito feliz. No começo fiquei com saudade e era muito ruim. Eu não queria ficar longe. Então minha mãe disse que se eu 

Autor: ,postado em 22/07/2014


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