Cinco jogos, cinco vitórias, 100% de aproveitamento e a liderança do Novo Basquete Brasil junto com o Flamengo, que tem um jogo a menos, mas também está invicto. Um início empolgante e um tanto quanto surpreendente do Vitória na temporada 2016/2017 da elite do basquetebol brasileiro. Mas qual é o segredo do sucesso do time comandado pelo técnico Régis Marrelli, que também foi o treinador em 2015/2016? Planejamento correto, uma pré-temporada bem feita e um elenco praticamente todo reformulado podem ajudar a explicar o que a equipe de Salvador tem feito em quadra.
O Vitória entrou no NBB no ano passado. O time do Uberlândia, que teve problemas financeiros, se mudou às pressas do Triângulo Mineiro para Salvador e, graças à parceria firmada entre o grupo de ensino que apoiava a equipe de Minas e o Rubro-Negro baiano, o campeonato nacional ganhou mais um time de camisa. A equipe, inclusive, teve um resultado surpreendente para sua primeira participação, chegando aos playoffs e perdendo para o Mogi das Cruzes nas oitavas de final. Só que, daquela vez, não houve muito tempo para treinar ou planejar a temporada, e o treinador Régis Marrelli pegou um elenco que já estava pronto.
- Começamos a fase de treinamento 10, 12 dias antes do primeiro jogo. Iniciamos a fase de contratação muito em cima, cerca de 25 a 30 dias, então não tínhamos um time. Isso atrasou o planejamento, a pré-temporada, e foi sentido durante a temporada. Agora, nós definimos uma estratégia para galgar voos mais altos, e começamos no final da temporada passada a pensar na atual - explicou o coordenador Marcelo Falcão.
- A franquia do Vitória foi confirmada no último dia possível na temporada passada. O time de Uberlândia veio para cá. Faltavam 17 dias para o início do NBB quando cheguei. Não tinha preparador, academia, era um time já montado. Não estava definido se jogávamos em Lauro de Freitas ou Salvador. Não tinha uniforme. Foi uma coisa muito em cima da hora. A cidade de Salvador não estava acostumada com o basquete. Tudo foi ocorrendo durante a competição. Conseguimos academia só no fim da temporada, usávamos a do Barradão com horários restritos. O Marcelo Falcão (coordenador) entrou, e as coisas foram se estruturando. Nosso objetivo era conseguir os playoffs. Foi muito duro. Aceitei renovar e começamos a trabalhar na montagem da equipe - completou Régis Marrelli.
Desta vez, Marrelli teve tempo para pensar. Tudo, segundo eles, foi feito a quatro mãos: a cooperação foi total entre o técnico e o coordenador do basquete rubro-negro. Primeiro, eles reformularam quase que completamente o elenco e definiram que iriam criar um grupo a partir de um armador. O americano Kenny Dawkins, que tem passagens por Paulistano e Liga Sorocabana, foi o eleito pelo comandante. Depois, chegaram nomes como Chris Hayes, Braga, Coimbra, Kurtz e Key, entre outros.
- Entramos no mercado em junho para estabelecer as contratações. Definimos o armador em julho. A partir do Dawkins, definimos uma metodologia tática e montamos o time. Começamos a fazer contatos com os jogadores que tinham o estilo de jogo que o Régis queria - contou Marcelo Falcão.
- O técnico dentro da quadra é o armador, ele coordena, ele faz tudo... Quando estava no Palmeiras, tentei levá-lo para lá. Dawkins é um cara fantástico. Sempre ouvi falar que era um cara de grupo e, além de um grande armador, é uma grande pessoa. Foi o primeiro passo - explicou Régis Marrelli.
Com o grupo montado, o Vitória iniciou a pré-temporada. Foram 45 dias de treinamento até a estreia na temporada 2016/2017 no Novo Basquete Brasil. Nesse meio tempo, Felipe Tinoco, até então preparador físico do Macaé, chegou para ajudar. Sem revelar valores, o comandante do Rubro-Negro afirma que houve um aumento no orçamento que chega a 30% do que foi gasto em 2015/2016, tudo bancado pelo grupo de ensino que fez a parceria com o time baiano.
- Foi uma equipe bem montada e que fez uma bela pré-temporada. E é uma equipe que se gosta, os caras têm um espírito muito bom. Quando o time não dá liga, pode treinar de manhã, à tarde, à noite que não engrena. Sabemos que somos uma equipe mediana. Nosso objetivo é ficar entre os oito e disputar um torneio sul-americano. Esse início é muito positivo, começar com cinco vitórias, sendo três fora de casa. Mas sabemos nosso tamanho - comentou o técnico, que prefere manter os pés no chão apesar do início avassalador no NBB.
Apesar do bom desempenho, o elenco baiano visa mais o coletivo que as atuações individuais. Tanto que apenas o pivô americano Hayes aparece entre os destaques por fundamento, é o quarto da competição em tocos, com quatro. O Vitória não é uma equipe completamente nova no basquete brasileiro, mas está longe da tradição de times como Flamengo ou Vasco da Gama. O Rubro-Negro baiano disputou duas edições da Liga de Desenvolvimento de Basquete (LDB), em 2012 e 2013, sempre em parceria com outras instituições e até foi campeão da Copa Brasil Nordeste, além de competir na Supercopa Brasil. Trata-se do primeiro representante da Bahia na elite da modalidade no país e segunda do Nordeste (Basquete Cearense é a primeira).
- A cidade está muito empolgada, porque não estava acostumada com o basquete. É algo muito novo aqui, e os torcedores ainda estão se adaptando. Trabalhei no Corinthians e no Palmeiras. É diferente. A torcida aqui é muito carinhosa e está sendo muito receptiva para a gente. Jogamos em uma comunidade pobre, a Cajazeiras. É uma cidade praticamente. É um pessoal que ficou muito contente com a presença do basquete lá porque é uma atividade para eles. Temos em torno de mil pessoas por jogo - contou Marrelli.
Na questão tática, Régis crê que o segredo é a parte defensiva. Em alguns jogos, tem ficado evidente a força do Vitória nesse setor. Contra o Vasco da Gama, no último jogo, por exemplo, principalmente a partir do terceiro quarto, a marcação dos rubro-negros fez com que os adversários não conseguissem pontuar. Foram só 60 pontos do adversário (70 a 60).
- Todos os jogadores de nossa equipe marcam de médio para bem porque eu acho que a defesa é o principal. Deixo isso claro para os jogadores. Eles compraram essa ideia. Eles estão marcando muito bem. Acho que estamos perto do Flamengo nisso. A defesa precisa ser o carro-chefe do time - opinou o técnico do Vitória.
Questionado sobre reforços, Marrelli não cita novos nomes e fala apenas de Arthur, que chegou no período de montagem do elenco, mas ainda não pôde estrear por conta de uma abertura nas musculaturas do adutor e do abdôme que sofreu quando ainda defendia o Brasília. A estreia dele deve acontecer em breve, contra o Bauru, no dia 15 de dezembro, em casa, ou diante do Franca, no dia 17, também em Salvador.
O próximo compromisso do Vitória é contra o Campo Mourão, fora de casa, nesta quarta-feira, às 20h15. Empolgados, mas com os pés no chão, os rubro-negros baianos esperam chegar à sexta vitória no NBB e se manter junto com o Flamengo na tabela.
- Existem favoritos pelo primeiro lugar, mas estamos muito animados e contentes. Acredito muito nesse espírito deles - concluiu.
*Estagiário, sob supervisão de Gabriel Fricke