Eleição direta, Marinho, novo técnico e contratações: Ivã revela ideias no Leão

Ivã de Almeida ainda não foi eleito presidente do Vitória, mas já fala e começa a trabalhar como novo gestor do clube. Pré-candidato à presidência do Rubro-Negro, Ivã viu a sua chapa, "Vitória do Torcedor", vencer a disputa para comandar o Conselho Deliberativo, na noite da última quinta-feira. Como, no Vitória, a chapa vencedora escolhe a gestão executiva do próximo triênio, Ivã deve ser aclamado presidente do clube em eleição marcada para a próxima segunda-feira.

Mas muito antes de ver a sua chapa vencer a eleição para o Conselho Deliberativo do Vitória, Ivã garante que já monitorava jogadores no mercado, conversava com treinadores e, portanto, elaborava um planejamento voltado para o período no comando do Leão. Entre os objetivos traçados pelo pré-candidato estão a reestruturação e a montagem de uma equipe forte, que não passe por aperto no Campeonato Brasileiro e brigue na parte de cima da tabela.

- Não tenho dúvida nenhuma que o Vitória vai precisar contratar muito para arrumar a equipe. Se a gente passar os olhos, vamos perceber que existem dois ou três atletas que nos agradam e mostram que têm condições de continuar no elenco. Entretanto, esses cinco, seis, sete jogadores, nós vamos ter que pegar no mercado. Isso nós já estamos discutindo desde setembro porque é a época melhor para isso. Na eleição do Vitória existe essa confusão dela ser tardia. Mas, para não sermos prejudicado, nós começamos esse trabalho, mas que não pôde ir até o fim. Agora, as contratações vão ocorrer efetivamente. O elenco precisa. A gente não pode entrar no campeonato pensando em apenas participar - acredita Ivã.

"O Vitória vai precisar contratar muito para arrumar a equipe", disse Ivã (Foto: Thiago Pereira)

Perto de ser eleito presidente do Vitória, Ivã concedeu entrevista ao GloboEsporte.com e revelou as suas ideias para o próximo triênio. Entre os pontos abordados pelo pré-candidato estão a permanência de Marinho, a contratação do novo treinador, a implementação de eleições diretas e montagem do elenco. Confira abaixo a entrevista. 

GloboEsporte.com: Botafogo, Flamengo e Grêmio fizeram sondagens sobre Marinho. Existe algo que o clube possa fazer para garantir a permanência do atacante?

Ivã de Almeida: Acho que a questão não é nem dinheiro. É mais de convencer Marinho caso alguém resolva efetivamente pagar a multa de Marinho. Aí existe outra chance de Marinho falar em ficar no clube por relação afetiva ou porque o treinador que chegou o agrada. Existe isso aí. Mas, qualquer clube não tem total domínio da situação, da gente falar que só vai se a gente quiser. Está no contrato e ele tem que ser respeitado. Vamos fazer de tudo. A gente quer uma equipe preparada, qualificada para ser vencedora no próximo ano. Não podemos decepcionar os nossos torcedores. 

A sua chapa se declarou aberta a eleições diretas no Vitória. Na prática, o que vai ser feito para a implementação?
A gente contempla um novo ciclo, que é o ciclo da união, que levantou efetivamente a bandeira de eleição direta. E o que ela chama de eleição direta é eleger o presidente diretamente. Tanto que foi a única chapa que apresentou o presidente e o vice-presidente do conselho diretor (Agenor Gordilho). As outras apresentaram só o presidente. Ficou parcialmente atendido isso. Ricardo David apresentou só ele. E o vice tem um papel importante no processo de gestão. Para mostrar logo ao torcedor que queremos transparência. Sabemos da responsabilidade. No momento que estamos abrindo para a torcida, pode, eventualmente, alguém que não participa da vida política do clube se eleger. Mas e daí? Se eleger, elegeu. É assim que funciona a democracia.

Foi definido um calendário para a implementação?
Nós já temos um calendário, já é um comprometimento oficial, que até março nós vamos ter a aprovação das eleições diretas no Vitória. Primeiro passa pelo Conselho Deliberativo aprovar a proposta. Nós já temos esse estatuto pronto. Como não foi feito nessa gestão, vai ser feita uma nova comissão e vai ser avaliado o trabalho. Eu não tenho dúvida de que a Assembleia vai aprovar. Mas não é só a eleição direta que nos atende. Atende também a proporcionalidade no Conselho Deliberativo. Porque o Vitória, quando o presidente é eleito, ele abraça todos os cargos do Conselho. É um superpoder. Por exemplo, ano passado eu participei de uma eleição contra Raimundo Viana. E lá eu estava em uma eleição dentro do colégio eleitoral dele. Aquele era o conselho dele. Eu tive 47 votos. Mas não fui eu que perdi. Foi ele quem perdeu 45 votos, porque dois votos foram meus e de Sinval Vieira, que estava comigo. Todo mundo que ele botou, era o pessoal dele. Nessa eleição é um pouco diferente, porque foi o Sou Mais Vitória que votou, então nós montamos uma chapa. Mas mesmo assim essa eleição não nos agrada. O que nos agrada é ter um presidente, eleição do Conselho Deliberativo proporcional. Se um candidato teve 30% dos votos, ele vai formar um conselho com 30% correspondente. Aí nós começamos a achar que esse é um modelo mais trabalhoso para o gestor, porque não é homogêneo dele, mas é assim que tem que ser. Isso também vai estar aprovado em março.

RENOVAÇÕES E CONTRATAÇÕES

" Acredito que até o meio da semana apresentamos o técnico do Vitória", acredita pré-candidato (Foto: Thiago Pereira)

 

Quais as pretensões do Vitória para 2017? Pelo que o Vitória vai brigar na próxima temporada?
A primeira delas é arrumar a equipe de futebol. Nós temos um problema sério na equipe, comprovado no Campeonato Brasileiro deste ano. Nós não podemos imaginar que a equipe vai se destacar apenas por um jogador. Isso foi um erro grave da equipe. Isso poderia nos custar muito. Felizmente tivemos sorte. No próximo ano, temos uma equipe formada por Sinval Vieira, responsável por organizar o futebol, e através dele nós vamos apresentar um projeto para a imprensa, para quem acompanha o futebol, que possa contemplar o trabalho da base articulado com o profissional. A equipe tem que ser uma equipe vencedora, que passe confiança.

Já estão definidos todos os nomes para o departamento de futebol?
O departamento de futebol não está totalmente definido porque nós estamos na composição desse projeto. Também estamos discutindo nomes para compor na posição de técnico. Já tem um mês e meio que estamos discutindo isso. Mas chegou um momento que não podíamos avançar por uma questão óbvia, de que não tínhamos a caneta para assinar. A gente tem nomes para discutir. Acredito que até o meio da semana apresentamos o técnico do Vitória. Também existe o que está lá, o Argel. Mas há outras avaliações de técnicos.

Não tenho dúvida nenhuma que o Vitória vai precisar contratar muito para arrumar a equipe. Se a gente passar os olhos, vamos perceber que existem dois ou três atletas que nos agradam e mostram que têm condições de continuar no elenco. Entretanto, esses cinco, seis, sete jogadores, nós vamos ter que pegar no mercado. Isso nós já estamos discutindo desde setembro porque é a época melhor para isso

Ivã de Almeida

Então, a ideia inicial é que venha um novo técnico?
Argel é uma hipótese que nós não descartamos. Entretanto, estamos aguardando os dados para que possa haver definição.   

Diego Renan, Diogo Mateus, Guilherme Mattis, Serginho, Tiago Real, Alípio e Zé Love são alguns dos jogadores que encerraram o contrato com o clube no final deste ano. Destes jogadores, há uma definição sobre quem deve renovar para a próxima temporada?
Nós temos uma listagem dos jogadores e as condições deles de renovação com o clube. Entretanto, não foram informações que a gente colheu diretamente com o clube. Nós temos que ter uma certa prudência nesses dados. Agora nós vamos confrontar esses dados, que vão ser usados nas decisões. O que eu posso dizer agora é que a avaliação de Sinval Vieira sobre esses atletas está feita, não na sua totalidade, mas em grande parte.

A tendência é que aconteça uma reestruturação do time?
Não tenho dúvida nenhuma que o Vitória vai precisar contratar muito para arrumar a equipe. Se a gente passar os olhos, vamos perceber que existem dois ou três atletas que nos agradam e mostram que têm condições de continuar no elenco. Entretanto, esses cinco, seis, sete jogadores, nós vamos ter que pegar no mercado. Isso nós já estamos discutindo desde setembro porque é a época melhor para isso. Na eleição do Vitória existe essa confusão dela ser tardia. Mas, para a gente não ser prejudicado, nós começamos esse trabalho, mas que não pôde ir até o fim. Agora, as contratações vão ocorrer efetivamente. O elenco precisa. A gente não pode entrar no campeonato pensando em apenas participar.

Novo Conselho Deliberativo do Vitória foi escolhido na última quinta (Foto: Francisco Galvão/EC Vitória/Divulgação)

Qual o perfil dos jogadores que devem ser contratados?
Os jogadores que nós pensamos em contratar são jogadores que têm que vir para jogar. Não é jogar para ficar na reserva. O trabalho já está 80% pronto. Digo que até terça ou quarta-feira deve sair uma novidade com relação ao elenco do Vitória a ser preparado.

Foram definidas as posições prioritárias?
A gente sabe que o Vitória está carente de meia. A gente tem o Marinho, mas ele não é meia. O Vitória, agora, fez uma contratação que poderia esperar a gente se instalar para tomar essa decisão. Mas não significa uma crítica. Acho que deveria ter a prudência de esperar dois ou três dias. Até porque a contratação de um jogador como Uillian Correia, na posição que ele joga hoje, deveria ter um pouco de paciência. Diferente da posição de atacante, que é mais difícil. Mas, entendemos que a posição da diretoria atual pode ser louvável dentro da expectativa dele ou da necessidade. Nós entendemos que foi uma decisão de gestão pensando em 2017   

O Vitória teve a 10ª melhor média de público no Campeonato Brasileiro. O que pode ser feito para melhorar esse número?
Nós temos uma meta ousada. Não só em termo de ganhar alguma coisa em campeonato, mas também pretendemos estender esse número de sócios torcedores para 50, 60 mil. Esperamos atingir isso até o final. Alguém pode dizer que é muito, mas a gente tem que estabelecer uma meta ousada mesmo. Para isso, vamos estudar todo o programa de sócio torcedor. Acho que o principal elemento que vai provocar aumento no Sou Mais Vitória é a qualificação da equipe. Se a gente coloca uma equipe aguerrida, um técnico de qualidade, o torcedor vem para o estádio e vai participar da vida do Vitória

Willian Farias disse após o último jogo do Vitória no Brasileirão que o clube fez um elenco para permanecer na Série A. Qual tipo de elenco a direção vai montar para a próxima temporada?
Você observa que o próprio jogador disse isso, sentiu isso. Poderia até ser uma insubordinação, mas não foi. Ele perdeu a paciência. Nossos torcedores sentiram isso também, que o Vitória entrou no campeonato para não cair. Isso é um absurdo. Nós sabemos que a vantagem nossa é ter um plano nosso. Nós sabemos que a gente pode mais e pode ousar mais. A gente tem que brigar na parte de cima da tabela. Não é na parte de cima do 10º não. É a parte de cima entre os quatro. Nós sabemos que a responsabilidade hoje. Nós vamos ter que dar resultado. Antes, o Vitória era administrado pelo nome, ninguém poderia questionar porque era varrido do Conselho. Mas eu continuei ali no Conselho. Estive o tempo todo negociando minha posição, mas não foi fácil. O tempo todo, os conselheiros que levantavam alguma coisa, saiam. Queremos agora registrar uma nova era no Vitória, uma era de que o presidente tem que ser que pode ser criticado. Se ele não tiver capacidade de absorver essas pancadas que vêm da torcida, dos nossos pares, é melhor ele não ser presidente do Vitória. Não tem que ter medo. Tem que cobrar mesmo. E quem tiver ideias, pode me passar. Até porque eu não sou dono da verdade. A gente precisa abrir o clube. Nós participamos de uma eleição em que tínhamos quatro chapas. Teoricamente, essas chapas que perderam para a gente vão ficar como oposição. Isso é na teoria. Nós temos que fazer um trabalho para que eles venham para dentro do clube, se agreguem. E daqui a três anos, quando tiver nossa eleição, eles formam a sua chapa. Não tem problema nenhum. Eu não acredito que o clube possa crescer se a gente fizer sozinho. Se todos os dirigentes quiserem governar sozinho, eles vão ficar sozinhos no final. O Vitória vai crescer na base das críticas. 

Quanto a categoria de base do Vitória, o que vai ser feito?
Categoria de base do Vitória, que sempre revelou jogadores... Semana passada eu estive em São Paulo, em uma reunião, e o pessoal falava que o Vitória sempre foi um clube formador. Mas isso é uma coisa, não vou dizer do passado, mas não está no presente. Nos últimos anos o Vitória não revelou nenhum atleta. A gente poderia até destacar Gabriel Paulista, mas Gabriel já veio pronto. Ele chegou ao Vitória com 17 anos. Não fez a base do Vitória. Na verdade mesmo, ele ficou um ano na divisão de base. Nossa avaliação é o seguinte: como eu e Sinval já fomos diretores da base, a avaliação é que hoje a base passa por um problema crônico de gestão. Primeira questão: talvez não esteja sabendo como faz para pegar esse atleta da base e jogar no time profissional ou no mercado. Segundo: a própria formação do atleta pode estar carente de vários projetos que possam complementar esse atleta. Você pega um menino com 12, 13 anos, treinando ele, chega nos 17 e você diz que ele não serve para nada? Tem algum problema. Ou a peneira não está sendo feita, que é a prospecção, ou está tendo alguma coisa da formação. Isso nós vamos corrigir urgente na equipe de condução da base. Profundas correções. E a parte técnica também. Tem algum problema em algum lugar. Quando eu fui diretor da base, por exemplo, nós revelamos em uma leva só: David Luiz, Wallace, Marquinhos, Anderson Martins, Marcelo Moreno. De repente, isso para no tempo, a gente gasta sete milhões por ano e, ao final, você verifica e não sobrou nada. Existe algum tipo de distorção.

Pretende investir mais que sete milhões?
Não diria gastar mais ou menos. Primeiro passo é verificar onde está gastando esse dinheiro que em cima não está chegando. Segundo passo: se precisar gastar mais, vamos gastar mais. Não adianta dizer que o problema é o dinheiro. Primeiro passo é avaliar se o dinheiro é suficiente. Se não for suficiente, faz uma correção. Pela experiência que nós temos, a princípio não é questão financeira. É experiência de gestão. Mas o foco nosso é a base, e essa tem que ser restituída imediatamente para o clube.

O Vitória mandou alguns dos seus jogos nesta temporada na Arena Fonte Nova. Pretende ampliar essa parceria?
Isso vai depender de proposta da Fonte Nova e da condição do nosso estádio. A gente não pode deixar de analisar que o estádio do Barradão é uma coisa que todos nós amamos. Não podemos deixar de colocar esse componente. Agora, isso não significa que a gente vai fechar o ouvido, virar surdo à realidade de proposta que vem da Arena. Estamos abertos a discutir, porque gestão é assim: a gente faz com o coração, mas principalmente com o cérebro. A gente tem o coração sabendo que tem que jogar no Barradão, mas vamos ver o que o cenário de negócio apresenta para a gente, para avaliar o que é bom para o Vitória. O que for bom para o Vitória, e atinja o objetivo, que é transformar o Vitória em um clube vencedor, nós faremos.

Autor: ,postado em 17/12/2016